26 de setembro de 2012

PERTENCIMENTO LIVRE

Por Luciana Eulaiuy, originalmente no umpontoum


Você se lembra, quando era pequeno, daquele seu amigo chatinho que sempre aparecia com todos os jogos, brinquedos ou bicicletinhas do seu herói ou personagem preferido? Lembra como ele era insuportável? Lembra dele se exibindo, como se o fato de ter aquilo fizesse dele o dono do assunto todo? Lembra de como você sabia, no íntimo da sua alma, que ele não gostava daquilo como você gostava? Não estou falando sobre inveja, aqui. Não é sobre isso. Eu estou falando daquela doce e absoluta certeza do pertencimento independente da condição. O pertencimento livre. Aquela noção de que você não precisa ter todos os brinquedos para provar ao mundo que você gosta de brincar e que brinca como ninguém! Estou falando sobre dois tipos de pessoas: a criança com mil brinquedos e a alma presa neles, e a criança que ama brincar.
“Sentimento de pertencimento livre” é uma coisa que eu inventei agora só pra distinguir aquelas pessoas que simplesmente vivem com uma certeza dentro delas. A certeza de que haverá brincadeira mesmo se não houver um brinquedo novo. Haverá sorriso mesmo se não houver dinheiro. Haverá fé mesmo se não houver boa notícia. Haverá Deus mesmo se não houver entendimento total. O sentimento de pertencimento livre nada mais é do que alma livre, espírito pronto e mente desejosa. Alma livre pra brincar, espirito pronto pra acreditar na brincadeira e mente desejosa por novas histórias.
Escrevendo esse texto, não consigo deixar de pedir que você faça um exame na alma, nos sentimentos, nas intenções, e até nas motivações. Não estou falando sobre auto ajuda, aqui. Não é sobre isso. Estou falando sobre meditar sobre o que realmente é importante na sua vida. Estou falando sobre sinceridade espiritual. Porque sabe, você pode ter as melhores coisas na sua mão e ao mesmo tempo não ter nada dentro de você. Ou você pode ter tudo dentro de você, mas porque não tem muitas coisas na mão, pode achar que não tem nada. As duas situações são roubos e deixam você infeliz. Talvez você tenha se distraído com tantos brinquedos e, ironicamente, esquecido de ser criança. Em outras palavras, tem lotado sua alma de conceitos, crenças, ritos, fórmulas, teorias, peregrinações, refrões repetitivos, gritos, livros, e, ironicamente, esquecido de ser uma pessoa livre. Eu disse “esquecido” porque acho que na verdade você é livre. Só precisa se lembrar. Ou precisa de coragem e força para explicar essa boa notícia à sua alma complicada. E é assim que a fé verdadeira entra no coração das pessoas. É assim que a fé fica produtiva e muda uma história. É assim que o amor limpa nossas mente e nossos valores. Um dia, aquele rabino Jesus achou importante dizer “vim libertar os cativos”. Não é mesmo uma afronta às algemas o fato de existir uma boa notícia para as almas más?
Eu acredito de verdade que todos nós nascemos com a essência da alma que ama brincar independente do que acontece ao redor. Acredito mesmo que Deus tenha dado essa condição para todos nós, sem exceção ou distinção. Mas também acredito absolutamente que o mundo bombardeia as almas por todos os lados e a miséria de amor e sinceridade acaba nos escravizando. Temos o sentimento do pertencimento, mas não é um pertencimento livre. É um pertencimento condicional. Então você pertence às circunstâncias e ao entorno. Depende de pessoas, de lugares, de números e de orientações pequenas. É claro que pessoas, números e lugares deixam a gente feliz, e muito! Mas nós sabemos identificar as temperaturas e os pesos das coisas que nos cercam, não é? Nós sabemos o que nos manipula, e ainda assim gostamos desse brinquedo. As vezes depositamos vida e existência em coisas que nos tornam menores. E por maiores que sejam, mais bacanas que sejam, mais bonitas que sejam e dignas que sejam, elas nunca serão tão grandes ao ponto de extinguir as verdades que libertam o espírito e transformam a mente. Abandonar essa busca custa os dias, a vida, os sorrisos, as curas, as experiências que edificam, as pessoas que Deus pode colocar na sua vida.
O perigo não é só viver pequeno, mas é esquecer o seu verdadeiro tamanho, sua verdadeira capacidade, esquecer da riqueza que é esticar-se e da delícia que é aprender dessa verdade. Pior ainda é ignorar o maior amor do mundo, que foi entregue à você, justamente para que você não tenha medo de entregar-se para coisas grandes (grandeza principalmente espiritual). Pensa: Jesus daria a vida por você, pra que a sua vida fosse pouca e pequena? Não parece uma entrega muito útil. Você foi feito pra viver mais, pra amar mais, pensar mais, acreditar mais, sentir mais, aprender mais, se abrir mais, se cuidar mais, se gostar mais, realizar mais.
Lembra daquele amigo chatinho que por alguns segundos fez você pensar que é preciso muito para ser livre, completo e feliz? Pois ele ama brincar de religião, de dinheiro, de comodismo, de sexo sem nexo, de baixa auto imagem, de vícios, e isso é só pra citar alguns. Essas brincadeiras sempre vão tentar chamar atenção, algumas vezes, o nome de Deus estará lá estampado. Mas sabe o que? Esse “Deus” inventado nunca vão deixar você se divertir. Nunca vai te dar o pertencimento livre. Só Deus pode dar liberdade completa para uma pessoa. Algumas das pessoas mais livres que eu conheço nem sabem disso, mas a liberdade delas é sim espiritual. Isso muda tudo. Faz delas pessoas muito mais incríveis, inpiradoras, leves e criativas. Essa é a porção que Deus tem para as pessoas.
É por isso que no meio de tanta brincadeira de mal gosto o Rabino continua oferecendo o sentimento do pertencimento livre e diz coisas escandalosamente simples como “Venha como estiver.” Não há exibicionismo. Não há irritação. Não há pompa. Não há porque não aceitar. Não há engano. Estou falando de dois tipos de pessoas: as espirituais e as distraídas.
Que você seja o tipo de criança que ama brincar. Que você seja livre o bastante pra entender que Deus é a alegria que mora primeiro no espírito e depois habita nos seus dias, nas suas demandas, faltas, vales escuros, e tristezas. Viver isso nos dias de hoje faz toda a diferença. E de certa forma, faz de você um verdadeiro herói.
Seja prático:
Leia Hebreus 12 (fala dos heróis da fé. Inspira, informa e é lindo).
Dê um brinquedo para alguma criança (Deus deve gostar).

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