28 de fevereiro de 2013

MÚSICA DO DIA [28.02.2013]





Palavrantiga - De Manhã 
De manhã eu canto uma nova canção
Pra você, amigo, do meu jeito
Pois estou certo de que me ouvirá
Pois você jurou que estaria perto
Perto de mim
E eu vou cantando
E Deus me abraçando, vai
Distante daquilo que eu era
Sem força nem fé ou poesia
Me encosto no peito daquele que atende o meu grito
A ele todo canto
Canto perto de ti

CONTROLE DOS INSTINTOS

|28 DE FEVEREIRO|

É UM equívoco achar que alguns dos nossos instintos, como o amor de mãe ou o patriotismo, sejam bons por natureza, e que outros, como o sexo e o instinto de luta, sejam ruins. O que queremos dizer na verdade é que as ocasiões em que os instintos de luta ou do desejo carnal devem ser reprimidos são mais frequentes do que aquelas em que devemos reprimir o amor de mão ou o patriotismo. Porém, há situações em que é dever do marido estimular seus impulsos sexuais, e de um soldado encorajar seu instinto de luta. Há ocasiões ainda em que o amor de uma mãe pelo seus filhos, ou o amor de um homem pela sua pátria, tem de ser subjugados; do contrário, eles levarão as injustiças em relação aos filhos ou aos países de outras pessoas. Estritamente falando, não existe esse negócio de bons e maus instintos. Voltemos ao exemplo do piano. Ele não tem dois tipos de teclas: as "certas" e as "erradas". Cada nota será certa ou errada dependendo do momento. [...]
Aliás, esse ponto tem fortes consequências práticas. A coisa mais perigosa que se pode fazer é tomar qualquer instinto e colocá-lo como algo que você tenha de perseguir a todo custo. Todos eles, sem exceção, tornam-se verdadeiros demônios quando os assumimos como guias absolutos. Você pode até considerar o amor pela humanidade em geral seguro; mas acontece que não é. Se você deixar de fora a justiça, acabará quebrando acordos e falsificando evidências quando for "pelo bem da humanidade". E, no final, acabará se tornando um homem cruel e traiçoeiro.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

27 de fevereiro de 2013

AS REGRAS

|27 DE FEVEREIRO|

ESPERO que você não interprete mal o que eu vou dizer. Não estou lhe passando nenhum sermão e não pretendo ser melhor do que ninguém. Tudo o que estou tentando fazer é chamar a atenção para o fato de que esse ano, ou esse mês, ou, bem mais provavelmente, hoje mesmo, falhamos em por em prática o tipo de comportamento que esperamos das outras pessoas. Existe todo tipo de desculpa para nós. Aquela vez em que você foi injusto com as crianças, foi porque você estava cansado. Todo aquele negócio meio obscuro envolvendo dinheiro - aquele que você tinha praticamente esquecido - surgiu quando você estava realmente precisando dele. E o que você havia prometido fazer para uma velho conhecido e nunca fez - bem, você nunca o teria prometido se soubesse que estaria ocupado. E quanto ao seu comportamento em relação à sua esposa (ou marido), ou irmã (ou irmão), se eu soubesse o quanto eles poderiam tornar-se irritantes, não ficaria admirado, pois, afinal de contas, quem sou eu para falar? Sou igualzinho aos outros. Isto é, eu não consigo seguir a lei da natureza sempre e, no momento que alguém me diz que a estou quebrando, minha mente produz um turbilhão de desculpas. A questão que me interessa no momento não é se as minhas desculpas são boas. O fato é que se trata de mais uma prova do quanto, quer queiramos ou não, acreditamos na lei da natureza. Se não acreditamos em um comportamento correto, por que ficamos tão ansiosos em apresentar desculpas quando não procedemos corretamente? A verdade é que acreditamos tanto na retidão - sentimos a regra da lei nos pressionando de tal forma - que não suportamos encarar o fato de que a estejamos quebrando e, consequentemente, tentamos fugir dessa responsabilidade. Você pode perceber que é só para o nosso mau comportamento que buscamos todas essas explicações. Atribuímos somente ao nosso mau humor o fato de estarmos cansados, com medo ou fome; o nosso bom humor, atribuímos a nós mesmos.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

26 de fevereiro de 2013

WOLVERINE CRISTÃO

O VERDADEIRO CERTO E ERRADO

|26 DE FEVEREIRO|

SEMPRE que você encontra uma pessoa que diz que não acredita em certo e errado, você observará que essa mesma pessoa se contradizendo minutos depois. Ela pode até quebrar uma promessa feita a você, mas experimente quebrar uma feita a ela. Provavelmente essa pessoa ficará se queixando de que "isso não é justo". Uma nação pode até dizer que pouco se importa com tratados; porém, no minuto seguinte, põe a causa a perder, alegando que aquele tratado particular que ela quer quebrar era injusto mesmo. Contudo, se não importam os acordos e se não há tal coisa como certo e errado (em outras palavras, se não há lei da natureza), qual seria a diferença entre um acordo justo e um injusto? Será que eles não vão dar com os burros n'água? Será que não estão mostrando que, não importam o que digam, na realidade conhecem a lei da natureza como qualquer outra pessoa?
Parece, então, que fomos forçados a acreditar que realmente existe um certo e errado. As pessoas podem muitas vezes enganar-se a respeito disso, da mesma forma que muitas vezes erram nas contas. Porém, o certo e o errado não são questões de gosto ou opinião, muito menos de tabuada.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

25 de fevereiro de 2013

ASSUMINDO A PRÓPRIA IDENTIDADE

|25 DE FEVEREIRO|

Screwtape esclarece a intenção do Inimigo.

É CLARO que sei que o Inimigo [Deus] também deseja alienar as pessoas de si mesmas, mas de uma forma bem diferente. Lembre-se sempre de que ele gosta mesmo desse vermezinho humano, e atribui um valor absurdamente grande às características que o distinguem. Quando ele fala de negarem-se a si mesmos, está simplesmente se referindo ao abandono do clamor da vontade própria. Depois disto, ele lhes restitui toda a sua personalidade, e se orgulha (receio que, sinceramente) do fato de que, quando são inteiramente dele, eles se tornam mais eles mesmos do que nunca. Assim, ao mesmo tempo em que o Inimigo [Deus] se compraz de vê-los sacrificando até mesmo suas vontades inocentes à dele, detesta vê-los se afastando da sua própria natureza por qualquer outro motivo. Então, temos sempre de encorajá-los a agir desta forma.

[C. S. Lewis]
- de The Screwtape Letter [Cartas do Diabo a seu Aprendiz]

24 de fevereiro de 2013

A VONTADE HUMANA: O PONTO FRACO DA CRIAÇÃO

|24 DE FEVEREIRO|

NÃO sabemos em qual ato, ou série de atos, o contraditório e impossível desejo encontrou expressão. Tudo o que eu consigo enxergar é que isso parece ter sido relacionado à ingestão literal de uma fruta, embora a questão não seja consequente disso.
Esse ato de vontade própria por parte da criatura, que constitui uma absoluta falsidade em relação à sua posição de criatura, é o único pecado que pode ser concebido como queda. Pois o problema em relação ao pecado original é que ele deve ter sido hediondo e abominável, ou as suas consequências não teriam sido tão terríveis, embora fosse ao mesmo tempo algo que um ser livre das tentações do homem decaído pudesse ter praticado. O desvio de Deus para o "eu" satisfaz ambas as condições. Trata-se de um pecado possível até mesmo ao homem paradisíaco, pois a simples existência de um eu - o mero fato de que nós o chamemos de "mim" - inclui imediatamente o perigo de idolatria de si mesmo. Como eu sou eu mesmo, tenho de assumir uma atitude de autoentrega - não importa o quão pequena e fácil - para viver para Deus e não para mim mesmo. Esse é o "ponto fraco" da própria natureza da criação, o risco que Deus parece achar que vale a pena assumir.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

23 de fevereiro de 2013

O CERNE DA CORRUPÇÃO

|23 DE FEVEREIRO|

A PARTIR do momento em que você tem um "eu", surge a possibilidade de colocá-lo em primeiro lugar, de querer ser o centro - de querer, na verdade, ser Deus. Foi esse o pecado de Satanás; e esse também o pecado que ele ensinou à raça humana. Algumas pessoas acham que a queda do homem está relacionada ao sexo, mas isso é um erro. (O livro de Gênesis na verdade sugere que a depravação da nossa natureza sexual foi resultado da queda, e não a causa.) O que Satanás colocou na cabeça dos nossos ancestrais mais remotos foi a ideia de que eles poderiam ser "como deuses" - que poderiam depender de si mesmos como se tivessem sido seus próprios criadores. "Sejam os seus próprios mestres", dizia ele, "Inventem o tipo de felicidade que desejam para vocês mesmos, fora de Deus". E foi dessa tentativa desesperada que surgiu praticamente tudo o que se relaciona ao que chamamos de história humana: dinheiro, pobreza, ambições, guerras, prostituição, classes, impérios, escravidão. A longa e terrível história do homem à procura de algo diferente de Deus para lhe trazer felicidade.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

22 de fevereiro de 2013

A SABEDORIA DE DEUS

|22 DE FEVEREIRO|

É CLARO que Deus sabia o que aconteceria se elas, as criaturas dotadas de livre-arbítrio, usassem a sua liberdade de forma errada: aparentemente ele achou que valeria a pena correr o risco. Talvez nos sintamos inclinado a discordar dele. Porém, há um problema quando discordamos de Deus. Ele é a fonte da qual extraímos todo o nosso poder de raciocínio: Você não poderia estar certo e ele, errado, da mesma forma que um córrego não pode elevar-se acima do nível da sua nascente. Quando você está discutindo com Deus, está tentando argumentar com o próprio poder que o capacita a argumentar: é como se você cortasse fora o galho em que se encontra assentado. Se Deus pensa que esse estado de guerra no universo é um preço que vale a pena pagar pelo livre-arbítrio - isto é, por ter feito um mundo vivo em que as criaturas são capazes de fazer o bem ou praticar o mal de verdade, um mundo em que algo de real importância pode acontecer, não sendo apenas um mundo de brinquedo que só reagisse quando ele apertasse os botões - então, temos de supor que vale a pena pagar o preço.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

21 de fevereiro de 2013

MÚSICA DO DIA [21.02.2013]

Tanlan - De Onde Vem

Eu sei que um dia eu vou 
Viver num lugar melhor pra mim 
Quem sabe você também 
Um dia descubra como ir 
Pra um lugar onde o amor é mais 
Do que tudo o que você já provou 
Um lugar onde não há mais dor 

Me diz o que você faz 
Me diz o que você tem 
Me mostra o que você quer 
Me deixa eu te mostrar 
De onde vem a minha paz 

 Me diz o que você faz 
Me mostra o que você quer 
Me deixa eu te mostrar 
De onde vem a minha paz

 

VOLUNTARIAMENTE UNIDOS

|21 DE FEVEREIRO|

TUDO o que Deus criou é dotado de livre-arbítrio. Isso significa que a criação pode agir bem ou mal. Algumas pessoas se acham capazes de imaginar alguém que fosse livre, mas sem qualquer possibilidade de se tornar mau; eu não consigo. Se uma pessoa é livre para ser boa, também é livre para ser má. Foi o livre-arbítrio que tornou o mal possível. Por que, então, Deus lhes deu essa liberdade? Porque o livre-arbítrio, embora tenha possibilitado o mal, é a única coisa que possibilita qualquer amor, bondade ou alegria dignos. Um mundo cheio de autômatos - criaturas que trabalhassem feito máquinas - dificilmente valeria a pena ser criado. A felicidade que Deus designa para suas criaturas superiores é a felicidade de serem unidas a ele e umas às outras, de forma livre e voluntária, num êxtase de amor e prazer. Comparado a isso, o amor mais arrebatador entre um homem e uma mulher é café pequeno. Mas para que isso aconteça, as criaturas tem de ser livres.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

20 de fevereiro de 2013

O REMOVEDOR SANTO

|20 DE JANEIRO|

NÃO há dúvida de que seria possível para Deus ter removido os efeitos do primeiro pecado cometido pelo ser humano. Porém, isso não teria valor se Deus também não estivesse pronto para remover o resultado do segundo pecado, do terceiro, e assim por diante. Se os milagres cessassem, então, mais cedo ou mais tarde, alcançaríamos a nossa atual lamentável situação. Se os milagres não parassem, teríamos um mundo continuamente superprotegido e corrigido pela interferência divina; teríamos um mundo em que nada de realmente importante dependeria da escolha humana e em que o próprio livre-arbítrio em breve cessaria - a partir da certeza de que uma das alternativas aparentes que se abrissem diante de você não levaria a resultado algum, e, portanto, não seria uma alternativa de fato. Como vimos anteriormente, a liberdade do jogador de xadrez depende da firmeza do tabuleiro e dos movimentos.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

19 de fevereiro de 2013

AS LEIS FIXAS DA NATUREZA E O LIVRE ARBÍTRIO

|19 DE FEVEREIRO|


PODERÍAMOS muito bem conceber um mundo em que, quem sabe, Deus corrigisse, o tempo todo, os resultados do livre-arbítrio por parte das suas criaturas. Desse modo, o bastão de madeira se tornaria tão macio quanto a grama caso fosse usado como arma e o ar se recusaria a me obedecer se eu tentasse produzir ondas sonoras que carregassem mentiras e insultos. Contudo, um mundo assim seria um lugar em que atitudes erradas seriam impossíveis, e em que o livre-arbítrio seria inútil. Se esse princípio fosse levado às conclusões lógicas, os maus pensamentos seriam impossíveis, já que a massa cerebral que usamos para pensar boicotaria a nossa tarefa de tentar direcioná-las. Toda a matéria que encontrasse perto de um homem fraco estaria propensa a passar por alterações imprevisíveis. O fato de Deus poder modificar o comportamento da matéria, produzindo o que chamamos de milagres, faz parte da fé cristã. Porém, a própria concepção de um mundo comum e, portanto, estável, requer que ocasiões como essas sejam extremamente raras. Num jogo de xadrez, você poderá até fazer algumas concessões ao seu adversário. Estas concessões estão para as as regras normais do jogo como os milagres estão para as leis da natureza. Você pode até sacrificar uma torre ou permitir que outra pessoa desfaça um lance feito por descuido. Porém, se você lhe conceder tudo o que ela pede para lhe beneficiar - se todos os seus movimentos fossem revogáveis e todas as suas peças desaparecessem sempre que a posição delas no tabuleiro não fosse do agrado dessa pessoa, então não haveria jogo algum. O mesmo acontece com a vida das almas no mundo: as leis fixas, as consequências se desdobrando por necessidade casual, e toda a ordem natural são limites imediatos dentro dos quais as suas vidas comuns estão confinadas e a única condição sob a qual uma vida assim é possível. Tente excluir a possibilidade de sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre-arbítrio envolvem e você acabará descobrindo que excluiu a própria vida.

[C. S. Lewis]
- de The Problem Of Pain [O Problema do Sofrimento]

18 de fevereiro de 2013

MAIS COMPETIÇÃO DO QUE CORTESIA

|18 DE FEVEREIRO|

SE A natureza fixa da matéria a impede de ser sempre e em todas as suas disposições igualmente agradável até mesmo para uma alma singela, é bem menos possível para a matéria do universo ser distribuída, em qualquer momento, de modo igualmente conveniente e prazerosa para cada membro de uma sociedade. Se um homem que esteja viajando em uma determinada direção tiver de descer um morro, uma pessoa que vier na direção oposta terá de subi-lo. Se até mesmo uma pedra fica onde quero que ela fique, ela não ficará, exceto por coincidência, onde você quer que ela fique. E isso está muito longe de ser um mal; pelo contrário, gera oportunidade para todos aqueles atos de cortesia, respeito e esvaziamento de si, pelos quais se expressam o amor, o bom humor e a modéstia. Porém, isso certamente deixa o caminho aberto para o grande mal da competição e da hostilidade. E, se as almas são livres, elas não podem deixar de lidar com o problema por meio da competição em lugar da cortesia. Uma vez que elas tenham avançado para a verdadeira hostilidade, poderão então explorar a natureza fixa da matéria para se machucarem mutuamente. A natureza permanente da madeira, que nos permite usá-la como um anteparo, também nos permite usá-la para bater na cabeça do nosso vizinho. A natureza permanente da matéria significa, de uma maneira geral, que, quando os seres humanos lutam entre si, a vitória costuma ser daqueles que possuem armas, habilidades e que estão em número superior, mesmo se a causa deles for injusta.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

17 de fevereiro de 2013

COMBUSTÍVEL ADULTERADO

|17 DE FEVEREIRO|


DEUS nos criou: inventou-nos como um homem inventa uma máquina. Um carro que tenha sido feito para ser movido a gasolina não funciona direito com outro tipo de combustível. E Deus projetou a máquina humana para funcionar à base dele mesmo. Ele é o combustível do qual os nossos espíritos devem se alimentar. Não há nenhum outro. Eis por que não é bom pedir a Deus que nos faça felizes do nosso próprio jeito, sem nos preocuparmos com a religião. Deus não pode nos far felicidade e paz fora de si mesmo simplesmente porque não existem desse modo. Não há nada parecido com isso.
Eis aqui a chave de toda a história. Gasta-se uma energia enorme, civilizações inteiras são construídas, instituições excelentes arquitetadas; mas toda vez acontece algo errado. Algum defeito fatal sempre leva pessoas egoístas e cruéis ao topo e cai novamente na miséria e na ruína. De fato, a máquina está trabalhando sob solavancos. Ela até parecia ter dado a partida com tudo funcionando e ter andado alguns quilômetros, mas depois quebrou. Estavam tentando fazê-la funcionar com o combustível errado. Foi precisamente isso que Satanás fez em nós, seres humanos.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

16 de fevereiro de 2013

DOIS ESCLARECIMENTOS RÁPIDOS

|16 DE FEVEREIRO|

A PRIMEIRA coisa a se esclarecer no cristianismo quanto à moralidade interpessoal é que, nesse particular, Cristo não veio pregar nenhuma moralidade totalmente nova. A regra de ouro do Novo Testamento ("faça aos outros o que gostaria que os outros fizessem com você") é um resumo do que todo mundo, no fundo, sempre soube ser o certo. Os verdadeiros grandes mestres da moral jamais introduziram novas moralidades: só os charlatães e excêntricos fazem isso. Como dizia o Dr. Johnson: "As pessoas precisam com mais frequência ser lembradas do que ser instruídas". A verdadeira tarefa de todo mestre da moral é continuar nos trazendo de volta, de tempos em tempos, aos velhos e simples princípios que fazemos questão de não enxergar. É como levar um cavalo sempre de volta ao obstáculo que ele se recusou a pular, ou uma criança de volta ao ponto da lição do qual ela tentou se esquivar.
A SEGUNDA coisa a esclarecer é que o cristianismo não tem, e não professa ter, um programa político detalhado a ser aplicado em uma sociedade particular num determinado momento sob a bandeira do "faça aos outros o que gostaria que os outros fizessem com você". Nem poderia ter. Ele se destina a todas as pessoas, de todos os tempos, e o programa mais adequado para um lugar e um tempo pode não ser para outro. Enfim, não é assim que funciona o cristianismo. Ele manda alimentar os famintos, mas não oferece aulas de culinária. Manda ler as Escrituras, mas não dá lições de hebraico e grego, nem mesmo de gramática em sua própria língua. O cristianismo nunca pretendeu substituir ou anular as artes e as ciências humanas: é, antes, como um direto que encaminha os alunos para as tarefas certas e como uma fonte de energia que dá nova vida a todos, se apenas nos colocarmos à sua disposição.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

15 de fevereiro de 2013

MÚSICA DO DIA [15.02.13]

Tanlan - Louco Amor

SEM ATALHOS PARA BOAS IDEIAS

|15 DE FEVEREIRO|

EM ÚLTIMA instância, parece que a ideia popular do cristianismo é simplesmente essa: que Jesus Cristo não passou de um grande  mestre da moral e que, se seguíssemos os seus conselhos, estaríamos em condições de estabelecer uma melhor ordem social e evitar outra guerra. Isso é bem verdadeiro, mas está longe de contar toda a verdade acerca do cristianismo e não tem a mínima importância prática.
É verdade que, se seguíssemos os ensinamentos de Cristo, estaríamos vivendo num mundo melhor. Você nem sequer precisa chegar a Cristo. Se todos nós tivéssemos feito o que Platão, Aristóteles ou Confúcio nos ensinaram, teríamos avançado de forma um pouco menos desastrosa. Mas, e daí? Nós nunca seguimos o conselho dos grandes mestres mesmo! Por que deveríamos começar agora? Por que seria mais provável seguir a Cristo do que a qualquer um dos outros? Seria por ele ser o maior mestre de todos? Na verdade, isso torna ainda menos provável sermos capazes de segui-lo. Se não aprendemos as lições elementares, seria possível encarar as mais avançadas? Se o cristianismo não significa mais do que um conjunto de bons conselhos, então ele não tem importância alguma. Não estamos sofrendo de falta de bons conselhos nos últimos quatro mil anos. Um pouco mais não faz diferença alguma.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

14 de fevereiro de 2013

NÃO É QUESTÃO DE OPINIÃO

|14 DE FEVEREIRO|

O QUE estou tentando fazer aqui é evitar que se diga a maior tolice que muita gente diz por aí, a respeito de Cristo: "Estou pronto para aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não posso aceitar a sua reivindicação de ter sido Deus". Isso é algo que não devemos dizer. Um homem que fosse simplesmente um homem e dissesse o que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. De duas uma: ou ele seria um lunático - do mesmo nível do homem que diz ser um ovo cozido -  ou então seria o próprio Diabo. Você terá de fazer a sua escolha. Ou ele seria, como é, o Filho de Deus, ou então um louco ou algo pior. Você poderia prendê-lo num manicômio, cuspir na cara dele ou matá-lo como a um demônio; ou então, poderia cair a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Porém, não me venha com essas bobagens moralizantes sobre ele ter sido um grande mestre humano. Ele não nos deixou escolha. E nem pretendia deixar.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

13 de fevereiro de 2013

A REIVINDICAÇÃO ABSURDA

|13 DE FEVEREIRO|

TODOS PODEMOS entender que um homem seja capaz de perdoar ofensas praticadas contra ele mesmo. Você pisa no meu pé ou rouba meu dinheiro e eu o perdoo. Porém, o que dizer de um homem que jamais foi roubado nem lhe pisaram no pé, mas que anuncia que o perdoaria por ter pisado no pé de alguém e roubado outra pessoa? Presunção estúpida é a descrição mais gentil que poderíamos dar à sua conduta. No entanto, foi isso mesmo que Jesus fez. Ele disse às pessoas que os seus pecados estavam perdoados, sem jamais consultar aos que haviam sido lesados por esses pecados. Ele se comportava, sem hesitação, como se fosse a parte mais interessada, a pessoa mais ofendida de todas. Isso só faria sentido se ele de fato fosse o Deus cujas leis tivessem sido quebradas e cujo amor tivesse sido ferido a cada pecado cometido. Proferidas por qualquer pessoa que não fosse Deus, essas palavras seriam, para mim, nada mais do que uma bobagem e uma presunção jamais concebidas por qualquer outro personagem da história.
Porém (e essa é a coisa mais estranha e significativa), até mesmo os seus inimigos, quando leem os Evangelhos, não costumam ter a impressão de que são bobagens ou presunções. Muito menos a tem os leitores imparciais. Cristo diz que é "humilde e manso", e nós simplesmente acreditamos nele sem notar que, se ele fosse simplesmente um homem, humildade e mansidão seriam as últimas características que atribuiríamos a alguns dos seus ditos.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

12 de fevereiro de 2013

O QUE O CRISTIANISMO OFERECE

|12 DE FEVEREIRO|

AGORA, tudo o que o cristianismo oferece resume-se a isso: se deixarmos Deus agir, podemos compartilhar a vida de Cristo. Se assim fizermos, estaremos compartilhando uma vida que foi gerada, não criada, que sempre existiu e continuará a existir. Cristo é o Filho de Deus. Se compartilharmos esse tipo de vida, também nos tornaremos filhos de Deus. Devemos amar o pai da mesma forma como o Filho o ama, e o Espírito Santo estará em nós. Cristo veio a este mundo e se tornou homem a fim de dar para todas as pessoas o tipo de vida que ele mesmo possui - por meio do que eu chamo de "bom contágio". Todo cristão deve tornar-se um pequeno Cristo. O propósito de se tornar um cristão não é nada mais do que isso.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

11 de fevereiro de 2013

O BOM CONTÁGIO

|11 DE FEVEREIRO|

MUITO bem, e o que importa tudo isso? Nada neste mundo é mais importante. Toda essa dança, ou peça dramática, ou padrão dessa vida "tripessoal" deve realizar-se em cada um de nós. Colocando de outra forma, cada um de nós deve ter o mesmo padrão, deve tomar parte nessa dança. Não há outro caminho que nos conduza à felicidade para a qual fomos feitos. Tanto as coisas boas como as ruins, você sabe, são contagiantes. Se você quer se aquecer, tem de ficar perto do fogo. Se você quer se molhar, tem de entrar na água. Se deseja alegria, poder, paz e vida eterna, precisa se aproximar, ou até entrar naquilo que as possui. Não se trata de alguma espécia de prêmio que Deus pudesse, se assim o desejasse, simplesmente passar para alguém. É uma grande fonte de energia e beleza que jorra a partir do centro da realidade. Se você estiver perto dessa fonte, a névoa úmida vai atingi-lo e o molhará; se ficar longe, se manterá seco. Uma vez unida a Deus, como um ser humano poderia não viver para sempre? Uma vez separado de Deus, o que ele poderia fazer a não ser murchar e morrer?

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

10 de fevereiro de 2013

AMOR SEM IGUAL

|10 DE FEVEREIRO|

É INÚTIL dizer que todas as pessoas tem o mesmo valor. Se tomarmos a palavra "valor" num sentido literal, se o que queremos dizer é que todas as pessoas são igualmente úteis, belas, boas ou divertidas, estaremos falando bobagens. Se isso significa que todos tem o mesmo valor como almas imortais, acho que esse pensamento encobre um erro perigoso. O valor indefinido de toda alma humana não é uma doutrina cristã. Deus não morreu pelo homem por causa de algum valor que ele tivesse notado nele. O valor de toda alma humana por si só, sem estar em relação com Deus, é igual a zero. Como Paulo escreve, morrer por homens valorosos não seria divino, mas meramente heroico; no entanto, Deus morreu por pecadores. Ele nos amou não porque fôssemos amáveis, mas porque ele é amor. Pode até ser que ele ame a todos igualmente (ele certamente amou a todos até a morte), mas não estou certo do que essa expressão quer dizer. Se existe alguma igualdade, ela está em seu amor e não em nós.
Igualdade é um termo quantitativo e, por isso, o amor muitas vezes não a conhece. A autoridade exercida com humildade e a obediência aceita com prazer são os caminhos que fazem nosso espírito viver. Mesmo na vida afetiva, e muito mais no corpo de Cristo, saímos do mundo que diz: "Sou tão bom quanto você". É como mudar de uma marcha para uma dança. É como tirar a roupa. Como dizia Chesterton, quando nos curvamos, ficamos mais altos; e ficamos menores quando ensinamos. Fico contente em saber que em alguns momentos no culto na minha igreja o pastor ou bispo fica de pé e eu me ajoelho. À medida que a democracia se torna mais completa no mundo lá fora e as oportunidades para a reverência são sucessivamente removidas, os alívios, as purificações e as voltas revigorantes à desigualdade, que a igreja nos oferece, tornam-se cada vez mais necessárias.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]

9 de fevereiro de 2013

UM POUCO DE PERSUASÃO

|9 DE FEVEREIRO|

Sempre é válido lembrar que este livro deve ser lido do ponto de vista invertido, pois é uma carta de um demônio para o seu aprendiz.

Screwtape escreve sobre a manipulação do "Jesus histórico"

ENTÃO, o "Jesus histórico", por mais perigoso que nos possa parecer em algum ponto particular, deve ser encorajado sempre. Sobre a conexão geral entre o cristianismo e a política, nossa postura é a mais delicada. Certamente não desejamos que as pessoas permitam que o seu cristianismo permeie a sua vida política, pois o estabelecimento de qualquer coisa parecida com uma sociedade realmente justa seria o maior dos desastres. Por outro lado, o que queremos mesmo, e desejamos muito, é fazer com que as pessoas tratem o cristianismo como um meio; de preferência, é claro, como um meio para o seu próprio benefício. Mas, caso isso não ocorra, que o usem como meio para qualquer outra coisa - até mesmo para a justiça social como algo exigido pelo Inimigo, para depois trabalhá-lo no sentido de chegar ao estágio que ele passe a valorizar o cristianismo por sua capacidade de conveniência. As pessoas e nações que se acharem capazes de reviver a fé para tornar a sociedade melhor também pensam que podem usar as escadas do céu como atalho para a farmácia mais próxima. Felizmente é muito fácil persuadir os seres humanos a seguirem este caminho. Hoje mesmo li um trecho de um escritor cristão, no qual ele recomenda a sua própria versão do cristianismo sob a alegação de que "só uma fé assim é capaz de suportar a morte de velhas culturas e o nascimento de novas civilizações". Será que você consegue enxergar a pequena brecha? "Não acredite nisso porque é verdade, e sim, por outra razão qualquer". É esse o jogo.

[C. S. Lewis]
- de The Screwtape Letters [Cartas ao Diabo a seu Aprendiz]

8 de fevereiro de 2013

MÚSICA DO DIA [08.02.2013]

Tanlan - Meu Nome, Meu Sangue


 

NOVAS CONSTRUÇÕES

|8 DE FEVEREIRO|

Sempre é válido lembrar que este livro deve ser lido do ponto de vista invertido, pois é uma carta de um demônio para o seu aprendiz.

Screwtape se pergunta sobre o valor da busca do "Jesus histórico"

É FÁCIL perceber que uma boa quantidde de escritores cristãos políticos admite que o cristianismo começou a dar errado e a se afastar da doutrina do seu Fundador num estágio bem precoce. O que temos de fazer agora é usar esse ideia para encorajar mais uma vez a concepção do "Jesus histórico", encontrado ao se eliminar os "acréscimos e perversões" posteriores e depois contrastado com toda a tradição cristã. Na última geração, promovemos a construção de um "Jesus histórico" baseado em aspectos liberais e humanitários; agora, apresentamos um novo "Jesus histórico" com características marxistas, catastróficas e revolucionárias. As vantagens dessas construções, que pretendemos mudar a cada trinta anos mais ou menos, são múltiplas. Em primeiro lugar, todas elas tendem a direcionar a devoção humana para algo que não existe, pois todo "Jesus histórico" é, na verdade, não-histórico. Os documentos dizem o que dizem e não podem ser negados. Assim, cada novo "Jesus histórico" que aparece tem de ser extraído deles pela supressão de um ponto ou pelo exagero de outro, e por uma espécie de suposição (brilhante é o adjetivo que ensinamos as pessoas a usar para esse tipo de coisa); algo sobre o que ninguém arriscaria dez centavos na vida cotidiana, mas que é o suficiente para produzir uma nova safra de Napoleões, Shakespeares e Swifts nos catálogos das editoras todos os anos.

[C. S. Lewis]
- de The Screwtape Letter [Cartas do DIabo a seu Aprendiz]

7 de fevereiro de 2013

O ESPÍRITO DE DEUS

|7 DE FEVEREIRO|

A UNIÃO entre o Pai e o Filho é algo tão concreto e vivo que essa própria união é também uma pessoa. Sei que isso é quase inconcebível, mas vamos tentar encará-la da seguinte forma. Você sabe que as pessoas, quando se reúnem em família, clube ou sindicato, falam do "espírito" de família, do clube ou sindicato. Elas dizem isso porque os membros, quando reunidos, realmente desenvolvem formas particulares de falar e comportar-se que não teriam se fossem separados. Parece que esse tipo de reunião traz à existência uma espécie de personalidade comunitária. É claro que não se trata de uma pessoa real; trata-se antes de algo parecido com uma pessoa. Porém, essa é apenas uma das diferenças entre Deus e nós. O que  emana de uma junção entre a vida de um pai e a de um filho é uma pessoa real. Trata-se na realidade da terceira das três pessoas que são Deus.
Essa terceira pessoa chama-se, em linguagem técnica, Espírito Santo ou "espírito" de Deus. Não fique surpreso ou assustado se você achar isso (ou ele) mais vago e mais nebuloso na sua mente do que as outras duas pessoas. Acho que há uma razão para isso ser assim. Na vida cristã você não costuma olhar para ele. O Espírito Santo está sempre agindo por meio de você. Se você imagina o Pai como algo que está "lá fora", na sua frente, e o Filho como alguém que está parado ao seu lado, ajudando-o a orar, tentando torná-lo um outro filho, então deve pensar na terceira pessoa como algo que se encontra dentro de você ou atrás de você. Quem sabe algumas pessoas achem mais fácil começar com a terceira pessoa e trabalhar daí para trás. Deus é amor e esse amor é trabalhado por meio do homem - especialmente por meio da comunidade cristã. Porém, esse espírito de amor é, desde toda a eternidade, um amor que se dá entre o Pai e o Filho.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

6 de fevereiro de 2013

MÚSICA DO DIA [06.02.2013]

Tanlan - Vaidade

 

PAI E FILHO

|6 DE FEVEREIRO|

TEMOS sempre de pensar no filho, por assim dizer, como algo que flui a partir do Pai, à semelhança de uma luz que incide de uma lâmpada, do calor que sai de um fogo, ou dos pensamentos emitidos por uma mente. Ele é a expressão própria do Pai - o que o Pai tem a dizer. E jamais houve um momento em que o Pai não estivesse dizendo isso. Porém, será que vocês perceberam o que está acontecendo? Todas essas imagens da luz ou do calor parecem levar à conclusão lógica de que Deus-Pai e Deus-Filho são duas coisas em vez de duas pessoas. Assim, a imagem revelada pelo Novo Testamento de um Pai e um Filho acaba se mostrando mais precisa do que qualquer outra que queiramos usar para substituí-la. É isso que sempre acontece quando você se afasta das palavras da Bíblia. É bom afastar-se delas por um momento para tornar um ponto específico mais claro, mas você precisa sempre voltar. Naturalmente, Deus sabe descrever-se muito melhor do que nós saberíamos. Ele sabe que a relação entre Pai e Filho é mais semelhante à relação entre a primeira e a segunda Pessoa do que qualquer outra coisa que pudéssemos inventar. O mais importante a lembrar é que se trata de uma relação de amor. O pai se deleita em seu filho; o filho busca seu pai.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

5 de fevereiro de 2013

UMA DISTINÇÃO CRÍTICA

|5 DE FEVEREIRO|

TODAS as pessoas conhecem e gostam de repetir a declaração cristã de que "Deus é amor". Porém, elas parecem não perceber que as palavras "Deus é amor" não tem sido verdadeiro a menos que Deus contenha pelo menos duas pessoas. Amor é algo que uma pessoa tem por outra. Se Deus fosse um só, então ele não poderia ter sido amor antes de o mundo ser criado. É claro que essas pessoas querem dizer quando falam que "Deus é amor" é bem diferente; elas querem dizer, na verdade, que "o amor é Deus". Elas acreditam que a atividade viva e dinâmica do amor tem estado em Deus eternamente e que ela criou todo o resto.
E essa, aliás, talvez seja a mais importante diferença entre o cristianismo e todas as demais religiões: no cristianismo Deus não é uma coisa estática - nem mesmo uma pessoa - e sim, uma atividade pulsante dinâmica, uma vida, quase uma espécie de peça de teatro. Ele é praticamente, se não for por demais irreverente, um tipo de dança.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

4 de fevereiro de 2013

COMECE DE NOVO TODOS OS DIAS

|4 DE FEVEREIRO|

NÃO acredito que algum esforço da minha vontade possa acabar de uma vez por todas com esse desejo por riscos calculados, essa reserva fatal. Só Deus pode. Tenho fé e espero que ele o fará. É claro que não acredito que só por isso eu tenho o direito de me "encostar", como se diz. O que Deus faz por nós, ele faz em nós. O processo que ele opera parecerá a mim (e não falsamente) o exercício repetido ou até de hora em hora, especialmente a cada manhã, porque ela cresce e se estende sobre mim como uma concha todas as noites. As falhas serão perdoadas; o consentimento é que é fatal, a presença permitida e regulamentada de uma área em nós que continuamos a reivindicar para nós mesmos. É provável que, enquanto estivermos do lado de cá da morte, não consigamos expulsar o invasor do nosso território, mas precisamos fazer parte da resistência, e não do governo vitorioso. E essa decisão deve, ao meu ver, ser retomada a cada dia. Nossa oração matinal deveria ser: "Da hodie perfecte incipere" - rogo que me concedas um novo começo sem falhas, já eu ainda não fiz nada.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]

3 de fevereiro de 2013

CALCULE O CUSTO

|3 DE FEVEREIRO|

VAMOS ver o que diz a lei com aquela sua vozinha terrível e fria [...]: "Se você não optou pelo reino de Deus, não fará diferença alguma que escolha você tenha feito". Essas são palavras duras de engolir. Será que realmente não fará diferença se foram mulheres, ou o patriotismo, ou a cocaína, ou a bebida, ou uma cadeira no Congresso, ou o dinheiro, ou a ciência? Bem, não terá sido uma diferença relevante. Temos desprezado o fim para o qual fomos criados e rejeitado a única coisa que nos satisfaz. Será que faria alguma diferença para uma pessoa que está morrendo no deserto saber qual foi o caminho que ela trilhou e que a fez perder o único poço existente por ali?
Um fato marcante sobre este assunto é que o céu e o inferno falam uma coisa só. O tentador me diz: "Tenha cuidado. Imagine só o quanto essa voa resolução, a aceitação dessa graça, vai lhe custar". Porém, Nosso Senhor também nos instrui a avaliar o custo. Até mesmo quando se trata de coisas humanas, grande importância é dada ao que há de comum em dois testemunhos que discordam em quase tudo. E mais: parece ficar bastante claro entre eles que remar em lugar seguro (perto da praia) faz pouco sentido. O que importa, o que o céu deseja e o inferno teme, é exatamente aquele passo a mais, para fora de nós mesmos e que nos colocará fora do nosso próprio controle.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]

2 de fevereiro de 2013

SÓ UM POUQUINHO DE MIM, POR FAVOR!

|2 DE FEVEREIRO|

DEUS não exige muito do nosso tempo, nem da nossa atenção. Ela não exige nem todo o nosso tempo nem toda a nossa atenção; é a nós mesmos que ele quer. Valem para todos nós as palavras de João Batista: "Importa que ele cresça e que eu diminua". Deus será infinitamente misericordioso em relação às nossas repetidas falhas; mas não conheço nenhuma promessa de que ele aceitará uma negociação deliberada. Em última instância, ele não tem nada a nos oferecer a não ser a si mesmo; e Deus só pode nos dar isso na medida em que a nossa vontade autossuficiente se retrai, abrindo espaço para ele em nossa alma. Não tenhamos dúvidas em relação a isso. Não restará nada "de nós mesmos" para vivermos, nenhuma vidinha "normal". Não quero dizer que todos nós vamos necessariamente ser chamados para sermos mártires ou ascetas. Se acontecer, que aconteça. Para alguns (não sabemos quem), a vida cristã incluirá muito lazer e muitas ocupações naturalmente prazerosas. E isso será recebido diretamente das mãos de Deus. Para um cristão perfeito, isso seria tão próprio de sua religião, do seu "serviço", como as tarefas mais difíceis, e seus banquetes seriam tão cristãos quanto os seus jejuns. O que não podemos admitir de forma alguma - e que deve existir somente como um inimigo não derrotado, mas ao qual se resiste diariamente -  é a ideia de que tenhamos algo "só nosso" a conservar; alguma área de nossa vida que esteja fora da jogada e sobre a qual Deus não tenha nada a reivindicar.
Deus exige tudo de nós, porque ele é amor e é próprio dele nos abençoar. No entanto, ele não pode nos abençoar enquanto não nos possuir por completo. Sempre que tentarmos reservar uma área de nossa vida como propriedade particular, estaremos reservando uma área onde impera a morte. Por isso é que ele exige, com todo o amor, que nos entreguemos por inteiro. Sem chance de barganhar.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]

1 de fevereiro de 2013

É MELHOR APRENDER A NADAR

|1 DE FEVEREIRO|

NOTE que todas aquelas precauções que o tentador sussurra nos nossos ouvidos são plausíveis. De fato, não acredito que geralmente ele tente nos ludibriar com alguma mentira direta (a não ser em nossa primeira infância). A plausibilidade funciona assim: é possível sermos levados por emoção religiosa - entusiasmo, como diriam nossos ancestrais - a tomar decisões e a desenvolver atitudes que no futuro nos trarão pesar. Resoluções e atitudes que tomamos não de forma pecaminosa, mas racional, não quando somos mais mundanos, mas sim quando somos mais sábios. Podemos nos tornar escrupulosos ou fanáticos; podemos abraçar tarefas que jamais nos foram designadas, o que até parece ser zelo, mas na verdade não passa de presunção. Essa é a verdade da tentação. A mentira consiste na sugestão de que estaremos mais seguros se nos preocuparmos prudentemente com a segurança de nossas finanças, com a garantia de nosso conforto e de nossas ambições. Porém, isso é bastante falso. Nossa proteção verdadeira deve ser buscada em outro lugar: na vida do cristão comum, na teologia moral, no pensamento racional equilibrado, nos conselhos de bons amigos e de bons livros; e, se necessário for, em um discipulador espiritual habilidoso. Aulas de natação são melhores do que uma corda até a margem.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]