8 de março de 2013

MÁ COMPANHIA

|8 DE MARÇO|

PRECISAMOS nos resguardar do sentimento de que talvez haja alguma "segurança nos números". É natural termos a percepção de que se todas as pessoas fossem tão ruins quanto afirmam os cristãos, então a maldade deveria ser algo bastante perdoável. Quando todos os alunos colam em uma provam, isso não pode ser um sinal de que as lições foram difíceis demais? É assim que se sentem os professores que ainda não perceberam que há outras escolas em que noventa por cento dos alunos passaram nos mesmos exames. Só então eles começam a suspeitar que o erro não estava nos examinadores.  Todos nós já tivemos a sensação de vivermos em algum nicho particular da sociedade - dentro dessa ou daquela escola, faculdade, regime ou profissão - em que o clima não era dos melhores. E nesses nichos particulares certas ações eram tidas como meramente normais ("todo mundo faz isso") e outras, como inviavelmente virtuosas e quixotescas. Porém, assim que conseguimos emergir dessa parcela ruim da sociedade, temos uma surpresa desagradável ao percebemos que, no mundo do lado de fora, o que nos parecia "normal" é o tipo de coisa que nenhuma pessoa decente sonharia fazer. E o que nós chamamos de "quixotesco" é tido como o padrão mínimo de decência e normalidade. O que nos pareciam escrúpulos mórbidos e fantásticos enquanto estávamos em nosso "gueto", revelam-se agora os únicos momentos de sanidade de que desfrutamos. É prudente encararmos a possibilidade de que toda a raça humana (que é tão insignificante perto do universo) é apenas um gueto local de maldade - uma escola ou um regimento de má qualidade, em que um mínimo de decência assume dimensões heroicas e a corrupção interior passa a ser vista como uma imperfeição perdoável.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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