10 de abril de 2013

BUSCA PELA NOVIDADE

|10 DE ABRIL|

Screwtape mostra como o prazer pela mudança se corrompe em uma busca da novidade pelas novidade.
Sempre vale lembrar que Screwtape é um demônio

AGORA, da mesma forma como levamos ao extremo o prazer de comer com o fim de gerar a glutonaria, pegamos esse mesmo prazer natural por mudança e o deturpamos para gerar uma exigência por novidade absoluta. Tal demanda foi inteiramente criada por nós. Se negligenciarmos o nosso dever, os seres humanos ficarão não só contentes, mas também arrebatados pelo misto de novidade e familiaridade das gotas de chuva desse inverno, do raiar do sol do novo dia e das castanhas de natal desse ano. As crianças, enquanto não lhes ensinamos, sentem-se perfeitamente felizes com uma rodada periódica de jogos em que o pega-pega vem depois da amarelinha, assim como o outono vem depois do verão. É graças aos nossos incansáveis esforços que a busca por mudanças infinitas ou desritmadas pode ser mantida.
Essa exigência é valiosa em vários sentidos. Em primeiro lugar ela diminui o prazer na medida que aumenta o desejo. O prazer pela novidade é, por sua própria natureza, mais sujeito do que qualquer outro, à lei da diminuição da recompensa. E a novidade constante custa dinheiro, de modo que o desejo por ela lança o feitiço da avareza ou da infelicidade, ou ambos. Digo e repito: quanto mais voraz for esse desejo, mais rápido ele deverá esgotar todas as fontes inocentes de prazer e passar àquelas que o Inimigo [Deus] proíbe. Assim, inflamando o horror à mesma velha coisa, acabamos por tornar as artes, por exemplo, menos perigosas para nós do elas já foram - já que tanto os artistas "desconhecidos", quanto os "famosos" são agora atraídos diariamente pelos excessos da lascívia, do irracionalismo, da crueldade e do orgulho.

[C. S. Lewis]
- de The Screwtape Letters [Cartas do Diabo a seu Aprendiz]

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