29 de abril de 2013

DOIS PONTOS FINAIS

|29 DE ABRIL|

SE parecer que eu compliquei um assunto tão simples, espero que você me perdoe. Estava ansioso para esclarecer dois pontos. Minha interpretação era erradicar aquele tipo de culto não cristão à individualidade do ser humano, que está arraigado no pensamento moderno, lado a lado com nosso coletivismo, pois um erro leva ao erro oposto e, longe de neutralizá-los, eles se agravam. Falo da noção pestilenta (podemos vê-la na crítica literária) de que cada um estreia com um tesouro chamado "personalidade" trancafiado dentro de si e que expandi-lo, expressá-lo, guardá-lo de qualquer interferência e ser "original" é o objetivo principal da vida. Isso é pelagianismo, ou algo pior, que acaba por derrotar a si mesmo. Nenhuma pessoa que valorize a originalidade será original. Porém, tente dizer a verdade da forma como você a vê; experimente fazer um trabalho bem feito motivado apenas pelo valor do próprio trabalho, e o que chamamos de originalidade surgirá de forma espontânea. Mesmo nesse nível, a submissão do indivíduo à função começará a trazer a verdadeira personalidade à tona. Em segundo lugar, queria mostrar que o cristianismo não se preocupa, a longo prazo, nem com os indivíduos nem com as comunidades. Nem o indivíduo, nem a comunidade, da forma como os entendemos, podem herdar vida eterna; nem o eu natural, nem a massa coletiva, mas somente a nova criatura.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]

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