7 de maio de 2013

NECESSIDADES VICÁRIAS

|7 DE MAIO|

CERTAMENTE você me perguntará: será que isso tem tanta importância assim? Isso não é injustiça, ainda que vista pelo outro lado? Se a princípio acusamos Deus de ter dado alguma vantagem indevida aos seus "eleitos", sentimo-nos agora tentados a acusá-lo do contrário: de um injusto desfavorecimento (é melhor deixar de lado a tentativa de manter as duas acusações ao mesmo tempo). Aqui certamente chegamos a um princípio que está profundamente arraigado no cristianismo, e que poderia ser chamado de sacrifício vicário. O homem sem pecado sofre pelos pecadores e, proporcionalmente, todos os bons pelos maus. E essa vicariedade - não menos que a morte, o renascimento e a seletividade - é mais uma característica da natureza. A autossuficiência, viver pelos próprios recursos, é algo impossível em seu âmbito. Todo mundo está em dívida com todo mundo e depende de todo o resto. E nesse ponto temos mais uma vez de reconhecer que o princípio em si não é nem bom, nem mau. O gato vive do rato de um modo que considero mau; as abelhas e as flores vivem na dependência uma das outras de uma forma muito prazerosa. O parasita vive no seu "hospedeiro", da mesma forma que uma criança não nascida vive em sua mãe. Sem a vicariedade, não haveria exploração ou opressão na sociedade; mas também não haveria bondade ou gratidão. Trata-se de uma fonte de amor e de ódio; de miséria e de felicidade. Quando tivermos entendido isso, não mais acharemos que os exemplos depravados da vicariedade na natureza nos proíbem de supor que o princípio em si tem origem divina.

[C. S. Lewis]
- de Miracles [Milagres]

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