20 de junho de 2013

"TUDISMO"

|20 DE JUNHO|

COM o termo "tudismo" quero conceituar a crença de que "tudo", ou o "conjunto", deve subsistir por si só; deve ser mais importante do que cada coisa em particular, deve conter todas as coisas particulares de tal forma que não possam ser realmente muito diferentes uma das outras - para que elas não sejam simplesmente "em uma", mas uma. Dessa forma, o "tudista", se parte de Deus, se torna um panteísta: para o qual não há nada nesse mundo que não seja de Deus. Por outro lado, se partir da natureza, se torna um naturalista: para quem não existe nada nesse mundo além da natureza. Ele pensa que tudo é, ao longo do processo, "meramente" um precursor, um desenvolvimento, uma relíquia, um exemplo ou um disfarce de alguma outra coisa.
Acredito que essa filosofia seja profundamente falsa. Um dos pensadores modernos disse certa vez que a realidade é "incorrigivelmente plural". Acredito que ele esteja certo. Todas as coisas vem de um só. Tudo está relacionado - ainda que de maneiras diferentes e complicadas. Mas todas as coisas não são uma.
A palavra "tudo" deveria significar simplesmente o total (um total a ser alcançado, se soubéssemos o suficiente, por enumeração) de todas as coisas que existem em um dado momento. Ela não deve receber uma inicial maiúscula em nossa mente; não deve (sob a influência do pensamento imaginário) ser transformada em um tipo de poço na qual as coisas particulares afundam ou mesmo em um bolo no qual elas são as cerejas. Coisas reais são mais delicadas, profundas, complicadas e diferentes. O "tudismo" é congenial à nossa mente porque é a filosofia natural de uma era totalitarista, dominante e produtora de massas. É por esta razão que devemos estar sempre alertas contra isso.

[C. S. Lewis]
- de Miracles [Milagres]

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