30 de julho de 2013

O DEVER TERRÍVEL

|30 DE JULHO|

[UMA DAS virtudes menos populares] está inserida na regra cristã: "Ame o próximo como a si mesmo". Uma vez que na moral cristã "o próximo" inclui o "inimigo", nos deparamos com esse terrível dever de amar nosso inimigo.
Todo mundo diz que o perdão é uma ideia adorável, até que tenha alguma coisa para perdoar, como nós tivemos durante a guerra. E então, apenas a menção do assunto é motivo para suscitar reações de ódio. Não que as pessoas achem essa virtude sublime e difícil demais de ser obtida; elas a consideram odiosa e desprezível. "Esse tipo de assunto as deixa doentes", dizem. E aposto que você está louco para me perguntar: "Gostaria de saber como se sentiria com a ideia de perdoar a Gestapo se fosse um judeu ou polonês".
Eu também queria saber. Eu me questiono muito sobre isso. Quando o cristianismo me diz que não devo negar a minha religião, nem mesmo para escapar da morte sob tortura, também fico me perguntando o que faria se a coisa chegasse a esse ponto. Não estou tentando lhe dizer o que eu poderia fazer  quanto a isso - há bem pouca coisa que eu posso fazer. O que estou tentando é falar-lhe a respeito do cristianismo. Não fui eu quem o inventou. E ali, bem no meio dele, me deparo com isso: "E perdoe os nosso pecados, assim como nós perdoamos aqueles que pecaram contra nós". Isso não dá margem para o pensamento de que o perdão possa ser-nos oferecido sob qualquer outra condição.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

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