15 de agosto de 2013

A FIM DE QUE O AMOR ENCONTRE UMA BASE

|15 DE AGOSTO|

Screwtape defende a impossibilidade do amor

ELE [o Inimigo, Deus] visa uma contradição. As coisas devem ser múltiplas, ainda que, de alguma forma, sejam uma só. O bem de alguém deve ser o bem de outro. Ele chama essa impossibilidade de amor, e essa mesma panaceia tediosa pode ser detectada em tudo que ele faz e, até mesmo, em tudo o que ele é - ou reivindica ser. Portanto, o Inimigo [Deus] não se contenta em ser, nem ele mesmo, uma simples unidade aritmética; ele declara ser um, e ao mesmo tempo, três, a fim de que essa bobagem sobre amor encontre fundamento em sua própria natureza. Assim, ele introduz aquela invenção obscena que é o organismo, em que as parte são pervertidas do seu destino natural de competição e postas em cooperação. 
O real motivo de o Inimigo [Deus] escolher o sexo como o método de reprodução entre os seres humanos é óbvio demais para o uso que ele lhe deu. O sexo poderia ter se tornado algo bastante inocente do nosso ponto de vista. Poderia ter se tornado mais uma forma de uma personalidade mais forte fazer uma mais fraca de presa - como acontece entre as aranhas: a noiva conclui as núpcias devorando o noivo. Porém, no caso dos seres humanos, o Inimigo [Deus] gratuitamente associou a afeição entre as partes ao desejo sexual. Ele também fez os descendentes dependerem dos pais e deu aos pais a força para apoiá-los - produzindo assim a família, que é como um organismo, só que bem pior; porque os seus membros são mais distintos, ainda que unidos de forma mais consciente e responsável. Tudo isso, com efeito, constitui-se simplesmente em mais uma menção para introduzir o amor.

[C. S. Lewis]
- de The Screwtape Letters [Cartas do Diabo a seu Aprendiz]

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