2 de agosto de 2013

QUANDO A FERIDA DA LEMBRANÇA REABRE

|2 DE AGOSTO|

Lewis lamenta a morte da esposa, Joy

NINGUÉM me avisou que o sentimento de luto era tão parecido com o de medo. Não estou com medo, mas a sensação é semelhante. O mesmo frio na barriga, a mesma fadiga, os mesmos bocejos. Eu continuo engolindo. 
Em outros momentos é como se eu estivesse levemente bêbado ou abalado. Vejo como uma espécie de véu entre mim e o resto do mundo. Tenho dificuldade de aceitar o que estão dizendo. Tudo parece tão desinteressante. Ainda assim, quero que os outros estejam ao meu redor. Fico apavorado quando a casa está vazia. Se ao menos as pessoas pudessem apenas falar umas com as outras, e não comigo.
Há momentos inesperados em que algo dentro de mim tenta me garantir que, na verdade, eu não ligo para nada disso, ou pelo menos nem tanto assim. Afinal, o amor não é tudo na vida e um homem. Eu era feliz antes de ter conhecido H. Eu tenho muito do que as pessoas chamam de "recursos". Pessoas assim acabam superando essas coisas. Vamos lá, não posso me deixar levar dessa maneira. Tenho vergonha de dar ouvidos a essa voz, mas parece que, por um instante, ela faz sentido. Até que então, a ferida da lembrança reabre e todo esse "senso comum" desaparece como uma formiga na boca de uma fornalha.

[C. S. Lewis]
- de A Grief Observed [A Anatomia de Uma Dor]

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