13 de setembro de 2013

SOBRE O DAR

|12 DE SETEMBRO|

NA PASSAGEM em que o Novo Testamento fala que todos devemos trabalhar, ele menciona que um dos motivos para tanto é que "se tenha algo para dar aos necessitados". A caridade - dar aos pobres - é uma parte essencial da moralidade cristã. Na assustadora parábola das ovelhas e dos bodes, esse parece ser o ponto culminante. Certas pessoas dizem que a caridade deveria ser desnecessária e que em vez de dar ao pobres, deveríamos lutar por uma sociedade em que não houvesse pobres para quem dar as coisas. Elas podem até estar certas em dizer que precisamos lutar por uma sociedade assim. Porém, se uma pessoa acha que nesse meio tempo ela pode parar de dar, então ela se afastou e está bem longe da moralidade cristã. Não acredito que seja possível estabelecer o que devemos dar em termos quantitativos. Temo que a única regra segura seja dar mais do que sobra. Em outras palavras, se a nossa despesa com conforto, luxo e diversão é maior do que o padrão comum entre os que ganham o mesmo que nós, provavelmente estamos dando muito pouco. Se as nossas doações não estão nos causando aperto ou embaraço, devo dizer que elas são demasiado pequenas. Deve haver coisas que gostamos de fazer, mas que não podemos por causa da nossa despesa com caridade. Estou me referindo agora à "caridade" no sentido comum. Casos particulares de necessidades e aflições vividas pelos seus próprios parentes, amigos, vizinhos ou empregados, que Deus, por assim dizer, nos força a notar, podem exigir mais ainda: podem até mesmo debilitar ou por em risco nossa própria posição. Para muitos de nós o grande obstáculo à caridade não está nos luxos da vida ou no desejo por mais dinheiro, mas no medo - medo da insegurança. Precisamos reconhecê-lo muitas vezes como uma tentação. Diversas vezes é o nosso orgulho que impede a nossa caridade; somos tentados a gastar mais do que deveríamos nas formas exibicionistas de caridade (dar gorjeta, exceder na hospitalidade), e menos do que deveríamos com aquelas pessoas que realmente precisam da nossa ajuda.

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

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