3 de setembro de 2013

VIVENDO À BEIRA DO PRECIPÍCIO

|3 DE SETEMBRO|

A CONDIÇÃO de guerra não é nenhuma novidade; ela simplesmente agrava a condição humana, de modo que não mais tenhamos como ignorá-la. A vida humana sempre foi vivida à beira de um precipício. A cultura humana sempre teve de existir sob a mesma sombra de algo infinitamente mais importante do que ela mesma. Se o homem tivesse adiado a busca pelo conhecimento e pela beleza até que estivesse seguro, jamais teria começado essa busca. É um engano querer comparar a guerra com a "vida normal". A vida nunca foi normal. Mesmo aqueles períodos que consideramos os mais tranquilos, como o século dezenove, acabam se revelando, em uma análise mais atenta, como cheios de crises, ameaças, dificuldades e emergências. Nunca faltaram bons motivos para se interromper atividades puramente culturais até que algum grande perigo tenha sido evitado ou alguma injustiça gritante, posta em ordem. Contudo, a humanidade optou, há muito tempo, por descartar as razões mais plausíveis. Ela passou a desejar o conhecimento e a beleza agora, se esperar pelo momento certo, que nunca chega. Péricles de Atenas não nos legou apenas Parthenon, mas também sua Oração Fúnebre. Os insetos escolheram uma estratégia diferente: eles buscam, acima de tudo, a segurança e o bem-estar material das colmeias e dos casulos, e provavelmente tem a sua recompensa. Os seres humanos são diferentes. Eles propõem teoremas matemáticos em cidades sitiadas, defendem argumentos metafísicos em celas de condenados, contam piadas na fila de execução, discutem o mais novo poema enquanto avançam sobre os muros de Quebec, e penteiam o cabelo na batalha de Thermopylae. Isso não é estilo; é a nossa natureza.

[C. S. Lewis]
- de The Weight Of Glory [Peso de Glória]

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