24 de outubro de 2013

DEFENDENDO-SE DO MEDO

|24 DE OUTUBRO|

O TERCEIRO inimigo [do acadêmico em tempos de guerra] é o medo. A guerra nos ameaça de morte e sofrimento. Nenhuma pessoa - e principalmente nenhum cristão capaz de se lembrar do Gêtsemani - precisa tentar atribuir uma indiferença estoica a essas coisas, mas podemos nos guardar das ilusões da imaginação. É só pensarmos nas ruas de Varsóvia e contrastar as mortes ali ocorridas com uma abstração chamada vida. Para nenhum de nós a questão é entre vida ou morte; é apenas uma questão de qual morte será - por uma metralhadora hoje ou por um câncer daqui a quarenta anos. O que a guerra traz de novo no que diz respeita à morte? Ela certamente não torna a morte mais frequente; cem por cento das pessoas morrem, e essa porcentagem não pode ser aumentada. A guerra faz com que várias morte aconteçam mais cedo, mas dificilmente acharia que é isso mesmo que tememos. Certamente, quando a hora chegar, fará pouca diferença quantos anos ficaram para trás. Será que a guerra aumenta as nossas chances de passar por uma morte penosa? Eu duvido. Até onde posso enxergar, o que chamamos de morte natural normalmente vem precedida de sofrimento, e um campo de batalha é um dos poucos lugares onde alguém tem uma perspectiva razoável de morrer sem sofrimento. Será que ela diminui as nossas chances de morrer em paz com Deus? Não posso acreditar. Se o exército não é capaz de persuadir um homem a se preparar para a morte, que série imaginável de circunstâncias poderia fazê-lo? Ainda assim, a guerra faz alguma diferença em relação à morte. A guerra nos força a nos lembrar dela. A única razão porque o câncer aos sessenta anos ou a paralisia aos setenta e cinco não nos incomoda é que nos esquecemos deles.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]

Nenhum comentário: