7 de outubro de 2013

ENTREGA

|7 DE OUTUBRO|

AGORA, o bem mais apropriado à criatura é a entrega ao seu Criador - permitir de forma intelectual, voluntária e emocional, aquele relacionamento disponível pelo simples fato de ser criatura. Sempre que age assim, o homem fica bem e feliz. Para que não a considerássemos uma tarefa difícil, esse tipo de bondade começa em um nível muito acima das criaturas, pois o próprio Deus, como Filho, por obediência filial, devolve a Deus, o Pai, o ser que o Pai, por amor paternal, eternamente gera no Filho. Esse é o padrão para o qual o homem foi feito para imitar - que o homem paradisíaco realmente imitou. E sempre que a vontade conferida pelo Criador é perfeitamente ofertada de volta, em obediência prazerosa e agradável por parte da criatura, aí, sem dúvida, está o céu, e daí emana o Espírito Santo. No mundo que conhecemos hoje, o problema está em como recuperar essa auto-entrega. Não somos simplesmente criatura imperfeitas que precisam ser aperfeiçoadas: somos, como Newman disse, rebeldes que precisam entregar as suas armas.
Portanto, a primeira resposta à questão por que a nossa cura precisa ser tão dolorosa é que entregar a vontade que passamos tanto tempo reivindicando como sendo nossa já é, em si mesma, não importa onde e como seja realizada, um sentimento mortificante. Eu sempre imaginei que até no Paraíso houvesse uma autossuficiência mínima a ser superada, ainda que essa superação e entrega fossem arrebatadoras. Porém, entregar uma vontade própria inflamada e ferida por anos de usurpação é uma espécie de morte.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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