16 de outubro de 2013

OS PRODUTOS DO SOFRIMENTO

|16 DE OUTUBRO|

A TENDÊNCIA desse ou daquele poeta ou romancista de novelas pode ser apresentar o sofrimento como totalmente negativo em seus efeitos, como se produzisse e justificasse toda espécie de maldade e brutalidade no sofredor. E, naturalmente, a dor, da mesma forma que o prazer, pode ser percebida desta forma: tudo o que é dado a uma criatura com livre arbítrio deve ter dois aspectos, não pela natureza do doador ou do que foi dado, mas pela natureza do receptor. Os resultados negativos da dor podem vir a se multiplicar se os observadores ensinarem constantemente aos sofredores que esse são precisamente os resultados certos e nobres que deve demonstrar. A indignação quanto ao sofrimento de outra pessoa, embora seja uma paixão generosa, precisa ser bem controlada para não roubar a paciência e a humildade dos que sofrem e semear a ira e o cinismo em seu lugar. Porém, não estou convencido de que o sofrimento, se poupado de tal indignação forçosamente vicária tenha qualquer tendência natural de produzir tais males. Nunca achei que as trincheiras ou os campos de batalha fossem mais repletos de ódio, egoísmo, rebelião e desonestidade, do que qualquer outro lugar. Vi grande beleza de espírito em certas pessoas que passaram por grandes sofrimentos. Vi homens que, no correr do anos, se tornaram melhores e não piores do que eram, e vi a pior doença produzir fortitude e mansidão a partir de situações pouco prováveis. Eu reconheço em personagens históricos amados e reverenciados, como Johnson e Cowper, traços que dificilmente teriam sido toleráveis se eles tivessem sido mais felizes. Se o mundo é de fato um "vale de formação de almas", de uma maneira geral, ele parece estar fazendo o seu trabalho. 

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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