11 de outubro de 2013

PALAVRAS DELICADAS

|11 DE OUTUBRO|

É BEM aqui, onde a providência divina parece à primeira vista ser mais cruel que a humildade divina, o rebaixamento do Altíssimo, merece o maior louvor. Ficamos perplexos ao ver a desgraça caindo sobre pessoas dignas, inofensivas e decentes - sobre mães de família capazes e esforçadas, ou pequenos comerciantes diligentes e frugais, sobre aqueles que se empenharam tanto e de forma tão honesta para obter seu modesto estoque de alegrias, e que agora pareciam estar começando a gozá-lo com plenos direitos. Como eu poderia dizer o que precisa ser dito a esse respeito com a máxima delicadeza possível? Não me importo em saber que posso parecer, aos olhos dos meus leitores mais hostis, pessoalmente responsável por todos os sofrimentos que tento explicar - da mesma forma que, até os dias de hoje, todo mundo fala como se Santo Agostinho desejasse que as criancinhas não batizadas fossem para o inferno. Porém, faz uma grande diferença se eu privo qualquer pessoa da verdade. Imploro ao leito que tente acreditar, por um só instante, que Deus, que criou todas essas pessoas tão merecedoras, está coberto de razão em achar que a modesta prosperidade delas e a felicidade de seus filhos não são suficientes para torná-las abençoadas: que tudo isso cairá por terra no fim dos tempos e que, se elas não tiverem aprendido a conhecê-lo, acabarão sendo infelizes. E por isso Deus as atormenta, avisando-as desde já sobre uma influência que um dia terão de descobrir. A vida que vivem para si mesmas e as suas famílias se coloca entre elas e o reconhecimento da sua necessidade; Deus torna esse tipo de vida menos doce para essas pessoas.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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