5 de novembro de 2013

CIÊNCIA OU MAGIA?

|5 DE NOVEMBRO|

EU DESCREVERIA como "pechincha de mágico" aquele processo pelo qual o homem entrega objeto após objeto, e finalmente a si mesmo, à natureza em troca de poder. É isso mesmo que estou querendo dizer. O fato de o cientista ter sucedido onde o mágico falhou impôs tal contraste entre eles no pensamento popular, que a verdadeira história do nascimento da ciência ficou mal-compreendida. Você até encontrará pessoas que escrevem sobre o século XVI como se a magia fosse um resquício da Idade Média: os séculos XVI e XVII são os pontos altos da magia. O esforço solene da magia e o esforço solene da ciência são irmãos gêmeos: um estava adoentado e morreu; o outro, se fortaleceu e floresceu. Mas eles eram gêmeos. Nasceram do mesmo impulso. Admito que alguns (certamente não todos) dos primeiros cientistas eram motivados por um genuíno amor pelo conhecimento. Porém, se considerarmos o clima daquela época, poderemos discernir o impulso de que estou falando.
Existe alguma coisa que une a magia e a ciência aplicada, enquanto separa ambas da "sabedoria" de eras anteriores. Para os sábios da antiguidade, o principal problema era como conformar a alma à realidade, e a solução era conhecimento, autodisciplina e virtude. Tanto para a magia, quanto para a ciência aplicada, o problema está em como submeter a realidade aos desejos do homem: a solução é uma técnica; e, na prática dessa técnica, ambas estão prontas para fazer coisas anteriormente consideradas repugnantes - como desenterrar e mutilar os mortos.

[C. S. Lewis]
- de The Abolition of Man [Peso de Glória]

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