28 de novembro de 2013

O LUGAR DA FINALIDADE E DA ESCURIDÃO

|28 DE NOVEMBRO|

[UMA] objeção [ao conceito de inferno como punição infligida por Deus] é que nenhum homem caridoso seria capaz de viver uma vida abençoada no céu enquanto tivesse consciência de uma única alma ainda a vagar pelo inferno; mas será que isso nos torna mais misericordiosos do que Deus? Por trás dessa objeção existe uma imagem mental de céu e inferno coexistindo em um tempo linear unidimensional, semelhante à coexistência das histórias da Inglaterra e da América, de modo que os bem-aventurados pudessem dizer a qualquer hora: "As misérias do inferno estão acontecendo agora mesmo". Porém, percebo que, quando o Nosso Senhor enfatiza os terrores do inferno com tamanho rigor, geralmente não enfatiza a ideia de duração, e sim de finalidade. A entrega ao fogo destruidor é geralmente tratada como o fim da história, e não como o começo de uma história nova. Não há dúvida de que a alma perdida está eternamente ligada à sua atitude diabólica; mas não fazemos a mínima ideia se essa ligação eterna implica uma duração interminável - ou qualquer duração que seja. [...] Sabemos muito mais sobre o céu do que sobre o inferno, pois o céu é o lar da humanidade e, portanto, contém tudo o que está implícito em uma vida humana gloriosa. Acontece que o inferno não foi feito para o homem; o inferno não é de forma alguma paralelo ao céu; trata-se, porém, da "escuridão lá fora", da área em que o ser se desvanece no nada.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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