4 de dezembro de 2013

VOCÊ É O JUIZ

|4 DE DEZEMBRO|

TENTEMOS ser honestos conosco mesmos. Imagine um homem que tenha ficado rico ou poderoso por meio de uma série de traições e crueldades explorando os sentimentos nobres de suas vítimas com fins puramente egoístas e rindo da ingenuidade delas; que, tendo alcançado o sucesso, faz uso dele para satisfazer a lascívia e o ódio, e finalmente perde o último vestígio de honra entre os malfeitores traindo seus parceiros e zombando de seus derradeiros momentos de desilusão desnorteada.
Suponhamos, ainda, que ele faça tudo isso, não atormentado (como gostaríamos de imaginar) pelo remorso ou pela apreensão, mas comendo como um adolescente e dormindo como uma criança saudável, mostrando-se um homem alegre, de bochechas coradas, sem nenhuma preocupação no mundo. Sempre confiante de que só ele encontrou a resposta para o enigma da vida, de que Deus e o homem são uns trouxas de quem ele se aproveitou muito bem, de que se modo de viver é totalmente satisfatório, bem-sucedido, inabalável. Temos de ser cuidadosos neste ponto. Se dermos espaço ao menor vestígio de paixão vingativa, estaremos cometendo um pecado mortal. A caridade cristã nos recomenda empreender todos os esforços para a conversão de alguém assim: preferir sua conversão, mesmo pondo em risco a nossa própria vida, quem sabe até a nossa própria alma, à sua punição; e preferir isso infinitamente. Mas não é esse ponto. Suponhamos que ele não queira se converter. Que destino eterno você consideraria adequado para ele? Será que você é realmente capaz de desejar que um indivíduo desse tipo, permanecendo do jeito que é (e deverá ter capacidade para tanto, se tiver livre-arbítrio), seja amparado para sempre pela felicidade presente - que ele devesse continuar, por toda eternidade, firmemente convencido de que é ele que dará a última gargalhada?

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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