28 de janeiro de 2013

ACHANDO O EQUILÍBRIO

|28 DE JANEIRO|

Cartas do Diabo ao seu Aprendiz apresenta uma troca ficcional de correspondência entre um tentador sênior, Screwtape, e seu protegido, Wormwood. Esta história tem que ser lida do outro ponto de vista. Screwtape oferece maneiras de explorar de forma astuciosa a linguagem vazia do paciente.

ACONTECE que há uma forma ainda melhor de explorar o desânimo; isto é, por meio dos pensamentos do próprio paciente sobre ele. O primeiro passo, como sempre, é manter o conhecimento fora da sua mente. Não o deixe suspeitar da lei dos altos e baixos. Faça-o achar que se esperava que o primeiro entusiasmo da sua conversão durasse para sempre, e que sua aridez atual é uma condição igualmente permanente. Uma vez tendo essa concepção errada bem fixada em sua mente, você poderá então proceder de várias formas. Tudo depende se o seu paciente é do tipo melancólico e desanimado, com tendências ao desespero, ou do tipo obstinado, capaz de afirmar que tudo vai bem. O primeiro está se tornando raro entre os seres humanos. Caso o seu paciente pertença a essa "raça", tudo se torna fácil. O que você tem a fazer é mantê-lo longe do caminho de cristãos experientes (coisa fácil de se fazer hoje em dia), dirigir a atenção dele às passagens apropriadas das Escrituras e depois fazê-lo se emprenhar no projeto desesperado de recuperar seus velhos sentimentos por meio da pura força de vontade. Aí o jogo estará ganho. Se ele for do tipo mais esperançoso, nosso trabalho será o de torná-lo mais complacente na atual fase baixa do seu espírito e gradualmente ajustá-lo a essa situação, persuadindo-o de que não está tão baixo. Em uma semana ou duas, você deverá fazê-lo se perguntar se, afinal de contas, os primeiros dias do seu cristianismo não foram um tanto radicais. Fale com ele a respeito da "moderação em todas as coisas". Se você conseguir levá-lo a pensar que "a religião só é boa até certo ponto", poderá sentir-se bastante feliz quanto à alma do seu paciente. Uma religião moderada é tão convincente para nós quanto religião nenhuma - e mais divertida inclusive.

[C. S. Lewis]
- de The Screwtape Letters [Cartas do Diabo ao seu Aprendiz]



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