3 de janeiro de 2013

NÃO NUA, E SIM COM UMA ROUPA NOVA


|3 DE JANEIRO|

NOSSA própria situação é bem parecida com a dos caramujos eruditos. Grandes profetas e santos têm uma intuição com relação a Deus que é positiva e concreta. Pois, de tocar as vestes do seu ser, eles foram capazes de vislumbrar que ele é a plenitude da vida, da energia e da alegria. E por isso (e por nenhum outro motivo) eles têm de anunciar que Ele transcende aquelas limitações que chamamos de personalidade, paixão, mudança, materialidade e coisas do gênero. A qualidade positiva que há nEle, que ultrapassa as limitações, é a única razão para tantas negativas.
Mas quando, titubeando, chegamos em seguida e tentamos construir uma religião intelectual ou “iluminada”, o resultado é que pegamos essas negativas (infinito, imaterial, impassivo, imutável etc.) e as usamos sem temperá-las com a intuição positiva.
A cada passo do processo excluímos da nossa ideia de Deus algum atributo humano. A única razão para se jogar fora atributos humanos é criar espaço no qual colocaríamos algum atributo divino positivo. Na linguagem do apóstolo Paulo, o propósito deste despir não é deixar nossa ideia de Deus nua, mas fazer com que ela seja revestida. Infelizmente, não temos meios para realizar este revestimento. Assim que removemos da nossa ideia de Deus características elementares dos seres humanos, nós (meros investigadores inteligentes e eruditos) não temos onde buscar aquele atributo da divindade incrivelmente real e concreto que deve ser colocado no lugar do atributo humano removido.
Assim, a cada passo no processo de refinamento, nossa ideia de Deus vai sendo esvaziada, e imagens fatais começam a aparecer (um mar infinito,silencioso, um céu límpido além das estrelas, uma abóbada branca e radiante), levando-nos a um grande vazio, à adoração de uma entidade não existente.

[C. S. Lewis]
– de Miracles [Milagres]

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