4 de janeiro de 2013

PROVE E VEJA


|4 DE JANEIRO|

A AFIRMAÇÃO cristã de que só quem faz a vontade do Pai conhecerá a verdadeira doutrina é filosoficamente precisa. A imaginação pode nos ajudar um pouco, mas na vida moral e devocional (mais ainda) tocamos em algo concreto que começará imediatamente a corrigir o vazio crescente da nossa ideia de Deus. Um só momento de sensibilidade contrita ou de gratidão poderá nos tirar, de certa forma, do abismo da abstração. É a própria razão que nos ensina a não confiarmos somente nela nesta questão, pois reconhece que não pode trabalhar sem a matéria. Quando se torna claro que você não pode descobrir, por meio do raciocínio, se o gato está ou não no armário, a própria razão lhe sussurra: “Vá lá e veja. Esse não é um trabalho meu. É uma questão para os sentidos”. Ou seja, a matéria para corrigir nossa concepção abstrata de Deus não pode ser fornecida pela razão; ela será a primeira a mandá-lo fazer a experiência: “Prove e veja!”. É claro que ela já terá mais do que provado que o seu posicionamento atual é absurdo. Enquanto permanecermos como caramujos eruditos, poderemos esquecer que, se ninguém jamais tivesse visto mais de Deus do que nós, não teríamos razões sequer para acreditar que Ele seja imaterial, imutável, impassível e tudo mais. Até aquele conhecimento negativo que nos parecia tão razoável não passará de uma relíquia que sobrou do conhecimento positivo de pessoas melhores – não passará de marcas que uma onda gigante celestial deixou na areia, depois de ter batido em retirada.

[C. S. Lewis]
– de Miracles [Milagres]

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