3 de março de 2013

RECOMPENSA JUSTA

|3 DE MARÇO|

UM HOMEM mau, mas feliz, é um homem sem a mínima noção de que seus atos não correspondem à realidade e que não estão de acordo com as leis do universo.
A percepção dessa verdade está fundamentada naquele sentimento humano universal de que os maus devem sofrer. Não vale a pena torcer o nariz diante desse sentimento, como se ele fosse comum. Em seu nível mais ameno, ele apela para o senso de justiça de cada pessoa. Certa vez, quando meu irmão e eu ainda éramos pequenos, estávamos desenhando na mesma mesa e eu esbarrei no cotovelo dele fazendo-o traçar um rabisco bem no meio de sua obra de arte. A situação acabou sendo resolvida de forma amigável quando eu lhe permiti fazer um rabisco de igual tamanho da minha folha. Isto é, eu fui colocado no lugar dele e fui obrigado a perceber minha negligência por outro ângulo; o dele. Num nível mais severo, a mesma ideia aparece como "punição retributiva", ou "dar a uma pessoa o que ela merece". Alguns indivíduos esclarecidos gostariam de banir todos os conceitos de retribuição ou merecimento de sua teoria do castigo e atribuir um valor total às teorias que apostem mais em estratégias de inibição ou na reforma do próprio criminoso. Eles não percebem que, agindo assim, passarão a considerar toda punição injusta. O que poderia ser mais imoral do que infligir sofrimento a mim em prol da inibição dos outros uma vez que eu não mereço este sofrimento? E se eu, na verdade, mereço esse sofrimento, você está admitindo a reivindicação da "retribuição". E há algo pior do que ser aprendido e submetido a um desagradável processo de reforma moral sem o meu consentimento, a menos que (mais uma vez) eu o mereça?

[C. S. Lewis]
- de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

Nenhum comentário: