|6 DE ABRIL|
O conto da carochinha da família altruísta
Vale sempre lembrar que Screwtape é um demônio
O MAIS recomendável para esse jogo é que seja jogado com mais de dois jogadores (em um família com filhos crescidos, por exemplo). Alguém sugere algo bem simples como um chá ou um piquenique no jardim. Um membro da família se encarrega de deixar bem claro (embora não com tantas palavras) que ele não estava com nem um pouco de vontade, mas que está disposto a participar por uma questão de altruísmo. Isso leva os outros a instantaneamente deixarem de lado a proposta, para exibir o seu próprio altruísmo que, na verdade, se deve ao fato de não quererem ser usados como uma espécie de joguete, permitindo que a primeira pessoa pratique um altruísmo mesquinho. Porém, ela também não se deixará vencer por esse deboche ao altruísmo. Ela insiste em fazer "o que os outros querem" e estes insistem em fazer o que ela quer. As paixões são imediatamente acesas. Dali a pouco alguém estará dizendo: "Tudo bem, eu não estava mesmo interessado em chá"; e eis que surge um conflito de verdade, com ressentimentos amargos em ambos os lados. Está entendendo como funciona? Se cada parte tivesse sinceramente lutado por seu desejo real, todos eles teria se mantido dentro dos limites da razão e da cortesia. Mas, já que o conflito se realiza às avessas e cada um está lutando a batalha contrária, toda a amargura, originária da hipocrisia e da obstinação reprimidas, e os ressentimentos acumulados nos último dez anos são camuflados por um altruísmo nominal ou oficial relativos aos seus atos presentes, ou, pelo menos, pelo que estão sendo levados a serem desculpados. [...] Um homem sensato disse certa vez: "Se as pessoas soubessem que mal-estar o altruísmo é capaz de provocar, este jamais seria recomendado no púlpito". Ou então: "Ela é o tipo de pessoa que vive para os outros - você sempre poderá reconhecer os outros pela expressão de "presa" estampada em seus rostos".
[C. S. Lewis]
- de The Screwtape Letters [Cartas do Diabo a seu Aprendiz]
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