5 de junho de 2013

PARECE UM FANTASMA, MAS NÃO É

|5 DE JUNHO|

ADMITO QUE, em certos aspectos, o Cristo ressurreto se assemelha ao "fantasma" da tradição popular. Ele "aparece" e "desaparece"; portas trancadas não representam uma obstáculo para ele. No entanto, Cristo mesmo garante, com todo vigor, que era matéria (Lc 24.39-40) e até come peixe frito. É nesse ponto que o leitor moderno se sente desconfortável. E ainda mais quando se depara com as palavras: "Não me detenhas; porque ainda não subi para o meu Pai" (Jo 20.17). Estamos preparados, até certo ponto, para vozes e aparições. Porém, o que poderia significar o fato de não podermos tocá-lo? Que negócio é esse de "subir ao Pai"? Ele já não estava "com o Pai"? O que subir poderia significar, a não ser uma metáfora para isso? E, se for assim, por que ele ainda não foi? Tais embaraços surgem nesse ponto da história que os "apóstolos" tinham para contar começam a conflitar com a história que esperamos e estamos precisamente determinado a ler em sua narrativa.
Esperamos que eles falem de uma vida  ressurreta como uma vida puramente "espiritual", no sentido negativo da palavra. Isso é, usamos a palavra "espiritual" não para significar o que é, mas o que não é. Nós imaginamos uma vida sem espaço, sem história, sem ambiente, sem elementos sensoriais nela. No mais profundo do nosso coração, também tendemos a achar defeito na humanidade de Jesus ressurreto; tendemos a concebê-lo depois da morte simplesmente como uma divindade que está voltando, como se a ressurreição não passasse de uma reversão da encarnação. Sendo assim, todas as referências ao corpo ressurreto nos constrangem; levantam questões complexas.

[C. S. Lewis]
- de Miracles [Milagres]

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