13 de julho de 2013

SIMPLESMENTE UMA FASE

|13 DE JULHO|

Lewis lamenta a morte de sua esposa, Joy

ENTÃO, de repente, uma pessoa conhecida morre. E vemos isso como um amor bruscamente interrompido, com uma dança suspensa bem no meio da evolução, ou como uma flor cujo botão foi decepado de forma cruel - algo truncado e que, por isso mesmo, ficou todo deformado. Fico espantado. Não consigo deixar de suspeitar que os mortos também sentem as dores da separação (e quem sabe esse não seja um dos sofrimentos purgativos). Nesse caso, o luto se torna, para ambos os amantes e para todos os casais, sem exceção, uma parte universal e integral da experiência de amor. Ele é a sequência normal do casamento, assim como o casamento é a sequência do namoro e o outro é a sequência do verão. Não se trata de um processo truncado, mas de uma de suas fases; não se trata de uma interrupção da dança, mas da próxima sequência musical. Enquanto a pessoa amada está viva, ela nos "arranca para fora de nós mesmos". O que entra em cena depois disso é o espetáculo trágico de uma coreografia em que precisamos aprender a continuar sendo "arrancados de dentro de nós mesmos", apesar da ausência da presença corpórea; precisamos continuar a amar sem cair no erro de passar a amar o nosso passado, ou então, a nossa memória, ou o nosso sofrimento, ou o alívio do sofrimento, ou, quem sabe, o nosso próprio amor.

[C. S. Lewis]
- de A Grief Observed [A Anatomia de Uma Dor]

Nenhum comentário: