14 de julho de 2013

CHARUTOS NO CÉU

|14 DE JULHO|

Lewis lamenta a morte de sua esposa, Joy

TENHO PLENA consciência de que os meus desejos mais internos são precisamente os que eu jamais terei capacidade de conquistar. A velha vida, as piadas, os drinques, as discussões, o fazer amor, o pequeno e o comovente lugar-comum. Não importa a partir de que ângulo eu encare. Dizer "H. está morta" é dizer "Tudo isso já era". Isso já faz parte do passado. E o passado é o que o tempo significa. E o próprio tempo é outro nome que damos à morte. E o céu é um lugar onde "as coisas velhas já passaram".
Sou aberto para conversar sobre a verdade da religião e ouvirei com a maior satisfação. Você pode até me falar dos deveres da religião; sou todo ouvidos. Porém, se me vier com a conversa de que a religião é algum tipo de consolo, suspeitarei que você não sabe do que está falando.
A menos, é claro, que você acredite literalmente em tudo que se diz sobre os encontros familiares "no outro mundo", descritos numa perspectiva totalmente terrena. Esse tipo de coisa é antibíblica e tirada de músicas e litogravuras de péssima qualidade. Não há uma só palavra sobre isso na Bíblia. Sabemos muito bem que não pode ser verdade. A realidade nunca se repete. Nunca somos privados de alguma coisa para depois recuperá-la como era antes. Como os espiritualistas mordem a isca! [Eles alegam que] "as coisas desse lado não são em nada diferentes". Teremos até charutos no céu, pois são por coisas desse tipo que todos nós ansiamos. O querido passado restaurado.
É por isso, e só por isso, que clamo, com loucas súplicas e exigências cegas feitas para o vazio.

[C. S. Lewis]
- de A Grief Observed [A Anatomia de Uma Dor]

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