4 de agosto de 2013

LAMENTO

|4 DE AGOSTO|

Lewis lamenta a morte da esposa, Joy

TENHO de pensar mais em H. e menos em mim mesmo.
Sim, isso soa muito bem. Mas há um porém em tudo isso. Eu penso nela quase o tempo todo. Penso sobre os fatos relacionados a H. - palavras ditas, risos e coisas que ela fez. Mas é a minha própria mente que seleciona e agrupa tudo isso. Menos de um mês depois de sua morte, já posso sentir o início lento e insidioso de um processo que tornará H. em uma mulher cada vez mais imaginária. Fundado em fatos, sem dúvida. Não estarei introduzindo nada de fictício (ou pelo menos, assim espero). Porém, será que a composição final não terá cada vez mais a minha própria cara? A realidade não estará mais presente para me controlar, para me refrear, como a H. real fazia tantas vezes, de forma inesperada, sendo tão completamente ela mesma e não eu.
O presente mais precioso que o casamento me proporcionou foi esse impacto constante de algo muito próximo e íntimo e ao mesmo tempo incomparavelmente outro, resistente - em uma palavra, real. Será que todo esse trabalho será desfeito? Será que o que eu ainda posso chamar de H. acabará submergindo de forma terrível, e não passará de um dos meus sonhos da época da faculdade? Ó, minha querida, volte por um só momento e espante esse fantasma miserável. Ó, Deus, por que tiveste tanto trabalho para forçar essa criatura a sair para fora do seu casulo, se ela está condenada a ser tragada para dentro dele de novo?

[C. S. Lewis]
- de A Grief Observed [A Anatomia de Uma Dor]

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