5 de outubro de 2013

CONCILIANDO O SOFRIMENTO HUMANO COM UM DEUS AMOROSO

|5 DE OUTUBRO|

O PROBLEMA de conciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus amoroso é insolúvel apenas se dermos um sentido trivial à palavra "amor" e colocarmos o homem no centro de tudo. O homem não é o centro. Deus não existe por causa do homem. O homem não existe por si mesmo: "Porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas" [Ap 4.11]. Não fomos feitos, em primeira instância, para amar a Deus (embora tenhamos sido feitos para isso também), e, sim, para que Deus pudesse nos amar e para que pudéssemos nos tornar objetos nos quais o amor divino pudesse encontrar satisfação. Pedir que o amor de Deus se contente conosco assim como somos seria pedir que ele deixasse de ser Deus: porque ele é o que é. A natureza das coisas diz que o seu amor deveria ser impedido e repelido por certas máculas que carregamos nos nosso caráter atual. E como Deus já nos ama, é preciso que ele trabalhe para nos tornar amáveis. Não devemos esperar, nem em nossos melhor momentos, que Deus venha a se reconciliar com nossas mazelas atuais - assim como a mendiga não podia esperar que o rei Cophetua se conformasse com seus trapos e sua sujeira. Ou um cachorro que, por ter aprendido a amar o homem, não podia esperar que ele fosse tão bom a ponto de tolerar que uma criatura selvagem e cheia de vermes entrasse em sua casa. O que nós chamamos de "felicidade" não é o fim principal que Deus tem em vista; mas quando formos pessoas que ele possa amar sem impedimento, devermos ser felizes de fato.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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