17 de novembro de 2013

A DOCE E SECRETA SAUDADE

|17 DE NOVEMBRO|

AO FALAR nesse desejo por nosso país longínquo, que sentimos dentro de nós agora mesmo, sinto certa timidez. Estou quase cometendo uma indecência. Estou tentando extrair o segredo inconsolável que se encontra em cada um de vocês - o segredo que machuca tanto, que você se vinga dele chamando-o de nostalgia, romantismo e adolescência; um segredo que também penetra com tanta doçura que, quando em qualquer conversa mais íntima a menção dele se torna iminente, acabamos ficando envergonhados e comovidos a ponto de rir de nós mesmos; um segredo que não podemos esconder, mas que também não podemos contar, por mais que desejemos fazer as duas coisas. Não podemos contá-lo porque se trata de um desejo por algo que nunca apareceu em nossa experiência. Não podemos escondê-lo porque nossa experiência o está constantemente sugerindo, e traímos a nós mesmos como os amantes ao mencionar um nome. Nossa saída mais comum é chamá-lo de beleza e nos comportar como se isso pudesse resolver o problema. [...] Os livros ou a música nos quais imaginamos que a beleza estivesse acabarão nos traindo se confiarmos neles. A beleza não estava neles; ela apenas veio por meio deles, e o que nos acometeu por meio deles foi a saudade. Todas essas coisas - a beleza, as memórias do nosso próprio passado - são belas imagens do nosso real desejo; mas, quando as confundimos com a coisa em sim, elas se tornam ídolos mudos, partindo o coração de seus adoradores. Pois elas não são a coisa em si; não passam da fragrância de uma flor que não encontramos, do eco de um tom que não ouvimos, de notícias de um país que jamais visitamos. Você acha que estou tentando lançar algum encanto? Quem sabe esteja; mas lembre-se dos seus contos de fada. A mágica é usada tanto para quebrar o encantamento quanto para induzi-lo.

[C. S. Lewis]
- de The Weight of Glory [Peso de Glória]

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