1 de dezembro de 2013

AS PORTAS DO INFERNO

|1 DE DEZEMBRO|

OBJETA-SE que a perda última de uma única alma significaria a derrota da onipotência. E é isso mesmo. Ao criar seres com livre-arbítrio, a onipotência submeteu-se desde o começo à possibilidade de tal fracasso. Chamo de milagre o que você chama de derrota, porque fazer coisas que não são ele mesmo, tornando-se assim, num certo sentido, capaz de encontrar resistência por parte da obra de suas próprias mãos, é o mais surpreendente e inconcebível dos feitos que podemos atribuir à divindade. Estou disposto a acreditar que, de certa forma, os perdidos são rebeldes que sucederam até o fim; que as portas do inferno se encontram trancadas por dentro. Não quero dizer que os fantasmas não queiram sair do inferno da mesma forma imprecisa que uma pessoa invejosa "deseja" ser feliz: mas eles certamente não alcançarão sequer os estágios preliminares daquele autoabandono necessário para uma alma atingir qualquer bem. Eles gozam para sempre a horrível liberdade que haviam exigido, e são, portanto, escravos de si mesmos; da mesma maneira que os justos, que se submetem à obediência para sempre, tornam-se cada vez mais livres, por toda a eternidade.

[C. S. Lewis]
- de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento]

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