23 de dezembro de 2013

DO MAIOR PRO MENOR

|23 DE DEZEMBRO|

A DISCREPÂNCIA entre um movimento de átomos no córtex de um astrônomo e a compreensão deste sobre o fato de haver um planeta ainda não observado além de Urano é tão imensa, que a encarnação do próprio Deus, num certo sentido, deixa de ser mais surpreendente. Não podemos conceber como foi possível ao Espírito Divino habitar o espírito criado e humano de Jesus; mas também não conseguimos conceber como o seu espírito humano, ou o de qualquer homem, é capaz de habitar no interior de seu corpo natural. O que podemos compreender, caso a doutrina cristã seja verdadeira, é que a nossa existência composta não é a completa anomalia que parece ser, mas uma imagem pálida que lembra a encarnação divina: o mesmo tema em escala muito menor. Podemos entender que, se Deus é capaz de descer assim sobre um espírito humano, e o espírito humano; e os nossos pensamentos, aos nossos sentidos e paixões; e se as mentes adultas (mas só as melhores) podem descer e simpatizar com crianças; e os homens com os animais, então tudo se une e a realidade total na qual vivemos - tanto natural quanto a sobrenatural -, é mais variada e delicadamente harmoniosa do que havíamos suspeitado. Tomamos conhecimento de um novo princípio-chave: o poder do Altíssimo de descer, na medida em que é verdadeiramente altíssimo; o poder do maior de incluir o menor. Os corpos sólidos exemplificam, assim, muitas verdades da geometria plana, mas as figuras planas não exemplificam verdades da geometria sólida. Muitas proposições inorgânicas são verdadeiras quanto aos organismos, mas as proposições orgânicas não se aplicam aos minerais. Montaigne brincava com sua gatinha, mas ela nunca discutia filosofia com ele. Em toda parte, o grande penetra o pequeno - seu poder para tanto é praticamente o teste da sua grandeza.

[C. S. Lewis]
- de Miracles [Milagres]

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