22 de dezembro de 2013

PENSE EM ALGO ASSIM

|22 DE DEZEMBRO|

SUPONHAMOS que possuímos partes de um romance ou de uma sinfonia. Então, alguém nos traz um novo trecho, descoberto recentemente, e diz: "Eis aqui a parte da obra que faltava. Este é o capítulo em que todo o romance se baseia. Este é o tema principal da sinfonia". Nossa tarefa seria ver se o novo trecho, caso admitido como parte central, conforme reivindica seu descobridor, é capaz de orientar e unir todas as partes que já vimos. Provavelmente não gostaríamos de ir longe demais no erro. Se essa nova passagem fosse falsa, por mais atrativa que pudesse parecer em princípio, quanto mais fosse considerada, mais se tornaria difícil de conciliar com o resto da obra. Porém, se o trecho fosse genuíno, então, toda vez que a sinfonia fosse ouvida, ou o livro lido, veríamos sua acomodação cada vez maior; ele ficaria à vontade e elucidaria significados em toda sorte de detalhes que até então havíamos negligenciado. Mesmo que o novo capítulo ou tema principal contivesse grandes dificuldades em si mesmo, poderíamos continuar considerando-o genuíno desde que ele continuasse a sanar dificuldades em outros pontos. Temos de fazer algo desse tipo com a doutrina da encarnação. Aqui, em vez de uma sinfonia ou um romance, temos o conjunto do nosso conhecimento. A credibilidade dependerá da extensão em que a doutrina, caso aceita, é capaz de integrar e esclarecer todo esse conjunto. É muito menos importante que a doutrina, em si mesma, seja totalmente compreensível. Cremos que o sol está no céu ao meio-dia, no verão, não porque podemos vê-lo claramente (de fato, não podemos), mas porque podemos ver tudo o mais.

[C. S. Lewis]
- de Miracles [Milagres]

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