10 de dezembro de 2013

O HOMEM QUE CONFUNDIU OS MEIO COM OS FINS

|10 DE DEZEMBRO|

O professor conta uma história

- ERA UMA vez uma criatura que veio para cá há pouco tempo e voltou - eles o chamavam de Sir Archibald. Ele não se interessava por nada nesta vida terrena que não fosse a sobrevivência. Ele escreveu tantos livros que encheu uma estante inteira sobre o assunto. [...] Sua ocupação exclusiva passou a ser essa: fazer experimentos, dar palestras, editar uma revista. Ele viajava também: descobrindo histórias fantásticas entre os lamas do Tibete e sendo iniciado nas irmandades da África Central. Provas e mais provas, e depois disso mais outras provas: era tudo o que ele queria. [...] Bem, a pobre criatura morreu em boa hora e veio parar aqui: e não havia poder no universo capaz de impedi-lo de ficar e ir para as montanhas. Mas você acha que isso lhe fez algum bem? De jeito nenhum. Este país não tinha utilidade nenhuma para ele. Todos aqui já tinham "sobrevivido". Ninguém deu a mínima para a questão. Não havia nada para se provar. Sua profissão já não era necessária. É claro que, se ele tivesse admitido que havia errado, trocando os fins pelos meios, e tivesse rido de si mesmo, poderia ter começado tudo de novo como uma criança e encontrando a alegria. Mas ele não quis fazer isso. Ele não ligava nem um pouco para a alegria. No final, ele acabou indo embora.
- Que coisa fantástica! -  disse eu.
- Você acha mesmo? - perguntou o professor, com um olhar penetrante. [...] Já vi homens que se interessavam tanto em provar a existência de Deus, que acabaram se desinteressando por completo do próprio Deus... como se o bom Senhor não tivesse nada para fazer, além de existir! Já vi gente que andava tão ocupada em espalhar o cristianismo, que jamais dedicou um só pensamento a Cristo.

[C. S. Lewis]
- de The Great Divorce [O Grande Abismo]

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