30 de setembro de 2013

NA PAZ

|30 DE SETEMBRO|

Lewis lamenta a morte de sua esposa, Joy

ELES ME DIZEM que H. está feliz agora. Dizem que ela está em paz. O que os faz ter tanta certeza disso? Não estou querendo dizer que temo o pior de tudo. Suas quase últimas palavras foram: "Estou em paz com Deus". Ela nem sempre esteve, e nunca mentia. E também não se enganava facilmente, muito menos em seu próprio favor. Não é isso que estou querendo dizer. Porém, por que ele estão certos de que toda a agonia termina com a morte? Mais da metade do mundo cristão e milhões de pessoas no leste pensam diferente. Como eles sabem que ela entrou para o "descanso"? Por que a separação (se nada mais), que traz tanta agonia ao amante que foi deixado para trás, deveria não envolver dor para o amante que partiu?
"Porque ele está nas mãos de Deus". Mas, se for assim, ela estava nas mãos de Deus o tempo todo e eu vi o que elas fizeram por ela por aqui. Será que elas se tornam de uma hora para outra mais gentis conosco assim que saímos do nosso corpo? E, se assim for, por quê? Se a bondade de Deus consente em nos ferir, então, Deus não é bom, ou não há Deus; pois na única vida que conhecemos ele nos fere além dos nossos piores medos e além de tudo o que somos capazes de imaginar. Se há consentimento em nos ferir, então ele pode muito bem nos ferir depois da morte de maneira tão duradoura quanto antes.
Às vezes é difícil não dizer: "Deus, perdoe a Deus". Outras vezes é difícil dizer isso. Mas se a nossa fé é verdadeira, ele não o fez. Ele se crucificou.

[C. S. Lewis]
- de A Grief Observed [A Anatomia de Uma Dor]

Nenhum comentário: